É nessa arena de ambiguidade que a edição aprofunda o diálogo sobre o que ficou popularmente conhecimento como “Cura Gay” e apresenta a relação entre “Religião e Tortura psicológica”.
Cura gay? Religião e Tortura Psicológica
Além de estarmos no mês da visibilidade LGBTIA+, a pertinência do presente dossiê também se justifica diante do cenário nacional. Um genocida LGBTfóbico na presidência, um serial killer preso por assassinar homens gays, um jovem estuprado e tatuado com frases homofóbicas, além da morte do ator Paulo Gustavo, pela qual um pastor orou.
Aplicação de técnicas de tortura psicológica com fins de modificação da orientação sexual de homens e de mulheres.
As polêmicas em torno da dita “cura gay”, ou práticas de conversão de orientação sexual e de gênero tornaram-se uma constância na cena pública, jurídica e legislativa brasileira nos últimos 20 anos.
A crença de que seria possível “curar” ou “reorientar” a sexualidade de pessoas LGBTI+ é precisamente negar o direito à sua própria identidade.
É possível perceber que o meio cristão ainda é permeado por uma diversidade de eventos que promovem discussões sobre sexualidade com o intuito de oferecer a cura.
Tal herança medicalizadora é tão forte que, não raro, ela aparece no contexto da própria luta contra preconceitos, discriminação e violência contra pessoas LGBTQIA+.
Sem dúvida, a maioria das Igrejas cristãs e algumas das outras religiões que se propagam pelo mundo precisam urgentemente ser curadas da sexofobia.
No Budismo, entende-se que a sexualidade é uma expressão da vida.
O debate das vivências das LGBT+ espíritas no modo “nós por nós” é recente, apesar de estarmos há tempos nos centros espíritas.
Os terreiros, sabida e sabiamente, acolheram e acolhem historicamente homens e mulheres LGBTQIA+
O índio TIBIRA (homossexual), de etnia Tupinambá, pode ser considerado a primeira vítima de LGBTfobia no Brasil. Baseado na pesquisa: Homossexualidade indígena e LGBTQfobia no Brasil: duas faces da mesma moeda”
Tratamos, assim, de uma fabricação contínua da norma que, a partir de múltiplos braços destrutivos — heteronormatividade, cisgeneridade, moral religiosa e restritiva, brancura e demais sistemas de clivagens entre nós versus os outros.
A aparente complexidade na transformação do pensamento discriminatório em relação às “minorias” LGBTQIA+ poderia ser justificada por uma falsa ideia de que a educação sexual não é um tema que deva ser abordado nas escolas.
Se, por um lado, há argumentos de que a homossexualidade não é compatível com algumas regras cristãs promulgadas na Bíblia, por outro lado, encontramos um ataque à própria Igreja, que mostra sua contradição.
Tais atividades recebem diferentes designações como o de terapia reparativa, terapia de conversão, cura da homossexualidade, “reorientação sexual de homossexuais”, “grupo de terapia reparativa” ou “ministérios de ex-gays”
A consagrava seu primeiro templo, sendo considerada a primeira propriedade de uma organização LGBT nos Estados Unidos.
Há influência religiosa e das igrejas na obstrução de Direitos. Todas essas exortações morais, atreladas às restritivas e inferiorizantes concepções, e às ações discriminatórias e violentas, servem ainda como entraves para a obstrução de Direitos Civis da população LGBTQIA+.
Não se pode desconsiderar que, atrelados ao discurso da “ideologia de gênero” estão práticas de violência física e moral das pessoas LGBTI+.
A discussão quanto à inclusão e aceitação de homossexuais e casais homossexuais nas comunidades judaicas liberais americanas começou no final do século XIX.
Qual é o motivo que faz com que alguns cristãos tentem repatologizar a homossexualidade e se utilizem da Psicologia para isso?
Naquela altura do campeonato, onde um menino de 18 anos é levado pra ser exorcizado da doença “gay”, tudo era possível.
O que você tem é casta maligna e só sai com jejum e oração. Essa foi a sentença que ouvi de um pastor evangélico após confidenciar minha predileção afetiva por mulheres.
Ninguém ou nenhuma instituição, sendo ela religiosa ou não, mandará na nossa raba.
Crescer ouvindo as pessoas que mais amo dizerem que “esse tipo de pessoa” estaria sempre longe de Deus e “esse tipo de comportamento” era repudiável me deixava com medo, assim como eu tinha medo de escuro.
Fiz jejuns, subidas de monte, cursos de batalha espiritual, quebra de maldição, encontros com Deus etc., todas as ferramentas que supostamente haviam “libertado” algumas pessoas do temível pecado de ser gay.
Foi na Tradição Diânica Nemorensis (TDN) que me aceitei e encontrei forças para me assumir como um homem gay.
A Umbanda não tem opinião sobre LGBTQIA+, sobre cultos diferenciados e sobre vestimentas, pessoas tem opiniões, religião não. A dificuldade é que o ser humano corrompe a religião.
A umbanda tem uma potência sem tamanhos para nós da comunidade LGBTI+, pois nos terreiros temos um local de resistência histórica de africanos e seus descendentes.
Estou no caminho budista clerical há alguns anos, mas antes disso, sou um cidadão gay cis. E essa é a história que gostaria de contar, sobre religiosidade e sexualidade.
Quando eu me entendi LGBT, tal distanciamento da religião pareceu ainda maior.
Meu primeiro casamento foi com minha professora de religião, que sofria pela culpa de estar tirando do caminho a ex-aluna.
Encontrar uma forma de pluralizar as existências e fazer com que todos entendam, de uma vez por todas, que os preconceitos e as intolerâncias estão Àiyé explicitadas na sociedade que se organiza dessa forma, e que isso reverbera nos terreiros.
Por volta dos meus dezesseis anos, concluí, com muito receio, que eu não era heterossexual.…
No Candomblé, foi revelado que meus orixás eram Oxum e Lôgunedé, filho de Oxum que no Brasil é considerado andrógino, e na África é considerado uma encarnação masculina da sua mãe Oxum.
O problema reside, portanto, no que é considerado pela religião- o que não necessariamente é prescrito por Jesus e/ou pelo seu legado- como pecado, que leva a uma luta incessante por uma “libertação” e “purificação” que oprimem, em alguns casos, existências, como as LGBTIA+.
Eu me envergonhava por não ser 100% hétero e já havia aceitado que a minha sexualidade era o meu espinho na carne e que eu teria que lutar contra esse pecado para o resto da minha existência.
Os conflitos vivenciados pelos LGBTQIA+ cristãs e cristãos apontam para os reflexos da teologia hegemônica construída ao longo dos séculos, no esforço de convencer os sujeitos dissidentes da “divergência” entre fé cristã e homossexualidade.
Refletindo em como contar sobre minha experiência enquanto um LGBT na religião, me deparei com a ideia de que me entender enquanto homossexual dependeu completamente da religião em que eu estava inserido na primeira fase de minha vida.