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A minha oração era simplesmente: “me liberta ou me mata”

A minha oração era simplesmente: “me liberta ou me mata”

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Sou nascido e criado dentro de uma igreja evangélica pentecostal. O exemplo de meu pai sendo um bom pastor me aproximou cada vez mais de Deus e do desejo de servir a Deus e aos demais. Aos 9 anos, pela primeira vez ouvi que era pecado dois homens estarem juntos e foi a partir desse dia que começou a minha luta interior, já que desde os 3 anos me sentia  “diferente” dos meus outros coleguinhas.

Essa luta interior me levou a desenvolver transtornos da alimentação, transtornos de ansiedade, devido à culpabilidade constante e ao sentimento de ser odiado por Deus. Sempre que ouvia o slogan “Deus ama o pecador maia odeia o pecado”, entrava em crise, já que pensava: “como pode então Deus me amar, se o meu pecado sou eu mesmo”? Fiz jejuns, subidas de monte, cursos de batalha espiritual, quebra de maldição, encontros com Deus etc., todas as ferramentas que supostamente haviam “libertado” algumas pessoas do temível pecado de ser gay. A minha oração era simplesmente: “me liberta ou me mata”

Cresci, estudei teologia e mudei de país, buscava respostas e quase cheguei ao ponto de duvidar a existência de Deus (mesmo o amando com todas as minhas forças). Foi então que ao estudar a bíblia vi que não encontrava nenhuma condenação sobre quem eu era. Ao caminhar verdadeiramente com Jesus dos evangelhos, descobri que tudo não passava de meras interpretações errôneas dos textos sagrados, encontrei uma pessoa para amar e ser amado, e juntos vivemos a experiencia da fé em um Deus inclusivo e afirmativo criador de toda diversidade.

Além de sentir-me aceito por Deus de forma completa e integral, hoje continuo a fazer o que amo, que é servir no ministério da minha igreja, Igreja Metodista Argentina. Sabemos que o processo de inclusão e afirmação ainda é longo e muito trabalho deve ser feito, porém o mais importante é saber que nosso único respaldo que nos legitima como filhxs de Deus é Cristo, o único autor e consumador da nossa fé, que levou sobre si todas nossas dores e feridas, e nele podemos viver essa vida abundante, verdadeiramente LIBERTXS, libertxs de toda opressão imposta pelo fundamentalismo religioso. Essa teologia fundamentalista gerou – e continua gerando – muitos problemas – especialmente a não aceitação de pessoas da diversidade sexual – que culminou em ações que incluíram atitudes sublimadas, violência física e psicológica ou suicídios, entre outras. Este sentimento de culpa por fazer algo que é “errado”, que é “pecado” ou que é “algo abominável a Deus” – como interpretado por estas teo (ideo) logías (Córdova Quero, 2015: “Saintly Journeys:Intersections of Gender, Race, Sexuality, and Faith in Alejandro Springall’s Santitos) – frequentemente se disfarçou de pseudoamor e pseudoinclusão.

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Trata-se de um processo de desconstrução e (re) construção de representações para que as práticas sejam transformadas e para que as pessoas vivam suas vidas sem restrições. Afinal, é nas mesmas escrituras sagradas que se diz que “Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10.34), nem mesmo por causa de sua orientação e identidade sexuais!