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“Ninguém manda nessa raba”: a fronteira entre a mulher de pau e a mulher de vagina

“Ninguém manda nessa raba”: a fronteira entre a mulher de pau e a mulher de vagina

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A problemática da religião eurocêntrica envolvendo a mulher de pau se potencializa a partir do momento em que se demoniza esse corpo, aplicando uma tortura psicológica que vende e oferece uma determinada cura a esse “homenzinho torto”.

Para a minha pessoa, Ágatha Íris, esse fenômeno social e cultural hegemônico afetou e contribuiu de inúmeras formas para que o meu corpo sofresse repressão. Como posso eu ser o individuo que precisa de salvação? Dessa forma, na busca de maquiar a minha travestilidade me deparei com transtornos psicológicos que me levaram à vulnerabilidade socioemocional. Logo, dialogar sobre essa vertente, é trazer à tona o índice de suicídio dessa população, que, segundo um relatório realizado pelo núcleo de Direitos Humanos e Cidadania e do Departamento de Antropologia e Arqueologia, estima-se que 42% dessas pessoas já tentaram cometer suicídio.

Dessa forma, essa ideologia incentiva não só uma reação no corpo do oprimido a fim de higienizá-lo, como também alimenta uma estrutura e um país – como o Brasil – que lidera por treze anos consecutivos o ranking mundial como o país que mais mata pessoas transvestigêneres, sendo a maioria mulheres trans e travestis.

A sexualidade e identidade de gênero dissidente – isto é que desvia da norma cis e hétero – a partir de uma perspectiva do cristianismo é uma condição patologizada e desumanizada. Desse modo, carrega consigo valores sociais, estéticas e tecnologias coloniais e capitalistas que refletem lgbtifobia e machismo. Implementar esse diálogo é construir possibilidades de subverter uma cultura hegemônica tendo como percepção o salvamento de um corpo homossexual, lésbico, bissexual, pansexual, polissexual, demissexual, agênero, transvestigênere etc., pela sua própria condição.

Consequentemente, a quem o corpo feminino é destinado? Tendo em mente que, sendo ele lbti+ ou cishetera, o seu devoto é designado “aos olhos do pai”. Sendo assim, a sociedade cria o homem para ser a imagem e semelhança de uma figura cisgênera, heterossexual e branca. Desta forma, onipresente, onisciente e onipotente. E em consequência, doutrina a mulher para ser o seu templo sagrado. Destinando a sua realidade a uma série de comportamentos repressivos tanto de forma consciente, inconsciente e subjetiva. No entanto, quando o assunto é “ninguém manda nessa raba” e “close de theca”, se faz necessário entender a feminilidade como uma produção e projeção do homem cis branco colonial, que ao subjetivar o ser mulher, disparou uma narrativa cissexista, ferindo assim a liberdade, a pluralidade e a subjetividade do corpo feminino:

“SE NÃO PENSARMOS INTERSECCIONALMENTE MORREREMOS  COLETIVAMENTE (LETÍCIA NASCIMENTO, TRANSFEMINISMO, FEMINISMOS PLURAIS, 2021)

Nesse sentido, a mulheridade começa não só a ser questionada, como também interseccionada dentro da relação de poder.

Durante anos, mulheres brancas foram destinadas à imagem da família e a um consumo de procriação que gerava a captação de bens e poderes do homem europeu. Enquanto mulheres pretas e indígenas eram subalternizadas, escravizadas e altamente hipersexualizadas e estupradas. Mas dentre essas narrativas, mulheres com deficiência foram invisibilizadas e mortas na história, travestis negadas da sua travestilidade e mulheres lésbicas fetichizadas. Assim sendo, o empoderamento feminino a partir desse ponto de vista interessa à masculinidade a partir do momento em que todas essas narrativas foram compostas por eles.

Em sua grande maioria, a busca pela feminilidade acaba levando ao dócil e automaticamente – de forma conotativa e denotativa – à morte. Isso ocorre porque o molde patriarcal se ressignificou e compreendeu a importância de usufruir da ideia do que é “power” e “pauer” feminino como uma medida de controle de gênero e de aludir essas realidades a uma concepção de autonomia. Ademais, para se beneficiarem dessa condição para realizar maquiagem lilás em suas empresas que vendem produtos feminino. Melhor dizendo, não só utilizam de propagandas que vinculam empoderamento ao consumo de um produto, como também desenvolvem em suas estratégias de marketing financiamentos a projetos sociais, comprometimento com datas significativas e a promoção de hashtags que vendem um sentido ativista utópico, desta forma manipulando ética e valores sociais, para engajar o seu público alvo com a marca e acometer a mercantilização do feminismo.

NESSE SENTIDO, TODA UMA ECOLOGIA DE TERMOS, COMO QUEER, NEGRITUDE, DESCOLONIZAÇÃO, DESCONSTRUÇÃO, FEMINISMO, ANTIRRACISMO, DISSIDÊNCIA, ETC., FOI ARTICULADA […] POR BRANCOS, COLONO-DESCENDENTES, HETEROSSEXUAIS E CISGÊNEROS EM SIMULTÂNEO A UM TRABALHO DE APROPRIAÇÃO DESSES TERMOS E POSIÇÕES COMO MOEDA DE TROCAS […] ATUALMENTE INTERESSADAS EM TODAS ESSAS PALAVRAS-CHAVE E NO VALOR ATRIBUÍDO A ELAS. (JOTA MOMBAÇA, A PLANTAÇÃO COGNITIVA, p. 8).

Diante disso, a vertente do capitalismo também mostra certa operação e compactação com a religião eurocentrada. Isso porque falar do cristianismo é tecer uma narrativa estrutural e estruturante. Já falar do capitalismo é dialogar sobre a projeção da privatização dos meios de produção que opera fins lucrativos. Diante disso, será que o cristianismo não tende a privatizar a sua religião como uma única forma para que mais membros possam ser conquistados e/ou até mesmo convertidos, como o caso da população indígena e preta no Brasil? Gerando, dessa forma, uma linearidade e binariedade de pensamento: Deus ou Diabo; luz ou trevas; anjos ou demônios; céu ou inferno. Subjetivando medos e ansiedades na sociedade a fim de se render ao único salvador. E este é um belo exemplo de quando Jota Mombaça diz sobre o cultivo escravagista para plantar moeda de troca. Mas será que todos os denominados cristãos pensam e agem dessa maneira? A que ponto isso não se torna radical e intolerante? O cristianismo não mudou e não poderia mudar as suas estruturas? Devemos caminhar de forma a tapar o sol com a peneira e devidamente apagar e escrever uma nova história para esquecer as feridas?

É DIFÍCIL NÃO LEMBRAR DE COMO A “MORAL RESTRITIVA – MODELOS PELOS QUAIS AGIMOS, TENCIONADOS PELA MANUTENÇÃO DE VIOLÊNCIAS ESTRUTURAIS, DENOTA UMA RELAÇÃO BÉLICA COM OS SUJEITOS DESIGNADOS POR ESSA ALTERIDADE RADICAL (THIAGO TEIXEIRA, COLUNA SENSO, 12/05/21)

Dessa maneira, compreendemos que não são sobre pessoas. Mas sim sobre um coletivo, em que, em sua grande maioria, vilanizou e ou culpabilizou a corporeidade feminina e a destinou a uma série de narrativas equivocadas e frágeis junto de grandes renomes da filosofia como Aristóteles e Platão, que sentenciavam uma narrativa da mulher dócil e inferior ao homem.

Deste modo, faz-se mais do que necessário e urgente reconstruir o sujeito mulher. Quando Mc Carol traz em sua música “represento as mulheres, 100% feminista”, o seu poder de fala amplia e traz outras possibilidades que não só a vertente do empoderamento feminino, mas sim empoderamentos femininos. Em outras palavras, não somos “mulher”, somos “mulheres”. Por consequência, devemos refletir sobre nossas demandas dentro das nossas particularidades. Atentando à interseccionalidade. Portanto, reescrever essa narrativa, é trazer inconscientes onde “o amor próprio é o nosso rolê”, e onde “Garotas de Ipanema” devem ir além do corpo único de mulher. Diante disso, as feminilidades deixam de ser uma produção patriarcal e começam a se desenvolverem através do matriarcado e traviarcado.

Inúmeras foram e são as formas que as mulheres e as travestis encontraram e encontram para subverter uma ótica feminina atravessada pelo homem colonial. Uma delas adveio através da arte, nesse sentido, destaco o funk. Ponderar esse gênero musical é também pensar em uma estética, sobretudo numa linguagem, que consequentemente não representa, mas raciocina o comportamento humano, visto que, pensar e repensar linguagem é também compreender o seu “eu” dentro da sociedade.

Usar a tecnologia funkeira – que, durante anos sofreu e sofre estigmas de forma a ser criminalizado – como representatividade feminina, sendo possível contemplar músicas escritas e/ou cantadas por mulheres para mulheres, gera identificação e automaticamente naturalização desse corpo. A retomada por suas vozes nesses espaços fez com que numerosas mulheres e travestis adentrassem diversos subgêneros do funk: carioca, ostentação, consciente, pop e proibidão. Permitindo, dessa maneira, que a mulher tenha acesso a sua sensualidade deturpada do seu desenvolvimento. Portanto, usar uma ferramenta que possivelmente com o tempo contribuiu com o estigma da hipersexualização da mulher, como em diversos outros estilos musicais, é construir outras possibilidades e dialogar com essas realidades.

“Vocês acharam que eu não ia rebolar minha bunda hoje?”, assim começa a cantora Anitta antes de prosseguir com uma sequência de coreografias que desafiam a sociedade patriarcal e a família conservadora. Nesse instante, sua frase pondera qual é o lugar que o seu corpo pode e deve ocupar. Deixando evidente a importância de ser “vulgar”. Sendo assim, as letras de muitas mcs geralmente são alvos de questionamentos e motivo de represália. Porém, seria o funk por uma perspectiva periférica uma produção irrelevante, considerada uma “falsa cultura” e uma estética a ser higienizada e criminalizada?

[…] Para mudar as letras do funk, você tem que mudar antes a realidade de quem está naquela área. (ANITTA, ENTREVISTA, 04/04/19)

Nessa perspectiva, o valor social a ser questionado não são as mensagens que as músicas tendem a passar, mas sim a estrutura que obriga esse corpo a se expressar ou de forma radical, ou em forma de resistência.

CAI DE BOCA NO MEU BUCETÃO (MC MIRELLA, MÚSICA, 03/07/18)

Pensar e repensar mulheres de buceta é compreender o que vem a significar “cair de boca no bucetão”. De imediato, Valesca Popozuda descreve a buceta da mulher como um poder. Em seguida, Luísa Sonza associa esse poder ao entendimento da potência de ser uma mulher e, para que isso fosse possível, usou e abusou do estereótipo de “boa menina” com a intenção de ressignificar essa posição.Isso que gera e provoca uma sociedade que desaprende a ser machista, o que, na perspectiva de Thiffany Odara, graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia e autora do livro “Pedagogia da DESobediência: travestilizando a educação”, é necessário porque:

[…] A PEDAGOGIA DA DESOBEDIÊNCIA AFIRMA O QUE A HETERONORMATIVIDADE NEGA (THIFFANY ODARA, PEDAGOGIA DA DESOBEDIÊNCIA, P. 10)

que, nesse caso, afirma o que a sociedade patriarcal nega.

Sem hesitar, “entre becos e vielas”, Ludmilla se diz “Rainha da Favela”. E todo esse arco narrativo se faz muito relevante quando falamos do corpo da mulher cis preta favelada periférica bissexual. Ou seja, “cai de boca no meu bucetão”, vai para além do nojo que se cria em fazer sexo oral com a mulher de vagina, mas também fortifica o seu poder e se sobrepõe a toda crueldade a qual é submetida.

Contudo, existe uma fronteira enorme entre pensar a genitália e definir mulheridade a ela. De fato, é necessário adotar uma narrativa específica. No entanto, com a intersecção de um debate onde existem homens de vagina e mulheres de pau, o assunto toma uma outra proporção. Em vista disso, se faz relevante distinguir que o poder vai para além do órgão genital designado feminino pela sociedade cisnormativa, na realidade ele compõe uma construção social. Portanto, são nessas estruturas que devemos reivindicar.

O MEU NOME É DANNY BOND E EU TENHO UMA PRECHECA (DANNY BOND, MÚSICA, 15/10/18)

A heterocisnorma aniquila corpos de mulheres trans e travestis. Isso ocorre porque ela alimenta uma estrutura em que papéis de gênero e sexualidade são denominados como “rosa e azul”. Por outra ótica, genitalizam comportamento social, onde a única narrativa que lhe cabe é uma “sexopolítica”:

[…] UMA DAS FORMAS DOMINANTES DA AÇÃO BIOPOLÍTICA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO. COM ELA O SEXO (OS ORGÃOS CHAMADOS “SEXUAIS”, AS PRÁTICAS SEXUAIS E TAMBÉM OS CÓDIGOS DA MASCULINIDADE E DA FEMINILIDADE, AS IDENTIDADES SEXUAIS NORMAIS E DESVIANTES) FAZ PARTE DOS CÁLCULOS DO PODER, FAZENDO DOS DISCURSOS SOBRE O SEXO E AS TECNOLOGIAS DE NORMALIZAÇÃO DAS IDENTIDADES SEXUAIS UM AGENTE DE CONTROLE DE VIDA [PRECIADO, 2003]

Dessa forma, educam a criança de acordo com o valor social de cada gênero, o que por si só mata a pluralidade e diversidade de um corpo em desenvolvimento. Por isso é que exclamar ter uma “precheca” parece assustador e algo não corriqueiro. Entretanto, é preciso ir além dessa estrutura. Ser uma mulher de pau torna esse corpo feminino uma anomalia. Ou seja, a narrativa da sua vida deve ser baseada na evasão escolar que acarreta no desemprego, e que destina unicamente e exclusivamente o lugar desse corpo à prostituição – algo que muitas vezes pode levar à morte. Reforçando, assim, a realidade em que 35 anos de idade é a expectativa de vida de uma pessoa transvestigênere, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA).

Desse modo, é primordial recriar o molde do seu corpo e, consequentemente, reproduzir uma mensagem em que seja necessário:

DÁ SURRA DE PICA! (IRMÃS DE PAU, MÚSICA, 26/02/21)

Sendo assim, dar surra de pica reflete dar surra na sua própria vulnerabilidade. E toda essa autonomia reflete na definição “Bonde das Travestis”, termo que Mc Xuxú adotou em sua música: “e o bonde não quer mais saber de mimimi, eu tô falando do bonde das travestis”. Portanto, se faz necessário refletir que a subversão da condição do corpo feminino de pau à força se faz necessário para que essa história não seja apenas sobre transfobia.

Por outro lado, consumir mulheres trans e travestis dentro do funk pode tornar as coisas ainda mais embaraçosas. Afinal de contas, contemplam esse corpo dentro de uma sensualidade única, de modo a fetichizar, porém não se importando e reprimindo quando essa sensação vem a público. De certa forma, como diz a escritora Luisa Marilac, o corpo da travesti sempre foi merecedor de orgasmos e nunca de amores.

Todavia, é preciso reconhecer que, segundo Pepita, travestis são “rainhas do baile, cabulosas e danadas”, e para dialogar com elas é necessário colocar “hashtags sem modos”. Sendo assim, esse é o modo que conseguem hackear e travar o cistema no qual são aprisionadas. Porque, como diz Cláudia Wonder, essas corporeidades são vistas como “doces de padarias”. Isto quer dizer que desumanizam essa condição somente ao pênis, o que tece e dificulta a realidade de muitas que desejam fazer a cirurgia de redesignação sexual, mas que, por trabalhar com a prostituição o seu capital, depende do seu pau. Portanto, todas essas conceituações diferem a necessidade de cada corpo que ao trazer o funk como análise, cultura e epistemologia feminina, é subjugado por conta do cristianismo e do patriarcado.

Arquivo da Autora
Arquivo da Autora

Entretanto, é preciso ir além das letras e colocar a dança em pauta e em movimento. “O corpo é um espaço de poder”, diz a artista multilinguagem, Taisa Machado, para uma entrevista. “Nem sempre o corpo é nosso. Muitas vezes, é tomado pelas neuroses do padrão, pelo fato da sociedade não aceitar que a mulher sinta prazer”, justifica. Dessa forma, se deixar requebrar pelos ritmos que o funk proporciona, torna-se um elemento preciso para esse corpo. Não é só sobre sedução, é sobre resgatar e tomar controle do seu próprio corpo. Permitir-se despir de si mesma frente a uma sociedade que lhe vende uma receita de “bela, recatada e do lar” e que demoniza o ato de se explorar. Mas para romper todos esses paradigmas, é imprescindível extrapolar os limites da sua potencialidade e corpo. Prontamente, as batidas e as letras que soam empoderamento, afloram a feminilidade que produz o prazer de se conhecer deste modo, provocando a estimulação de se autossatisfazer. Nas entrelinhas, a mensagem que se passa é de autonomia, que, por sua vez, produz e reproduz uma saúde mental necessária para a sua vida, construindo assim, um corpo menos indefeso. E todo esse arco narrativo desmistifica a ideologia de que a sexualidade e o rebolado da mulher está interligado unicamente e/ou exclusivamente à masculinidade.

Apesar de tantos avanços, ainda há muito o que fazer. O empoderamento através e pelo funk não deve ser centralizado apenas nas feminilidades, mas deve também ser fonte de poder da população LGBTI+, já que foi dentro da periferia que esse gênero se desenvolveu e se desenvolve. E são nesses espaços que corpos LGBTI+ estão destinados à falta de liberdade e muitas vezes são omitidos nos debates da própria comunidade, visto que o “centro” não costuma dialogar com a “periferia”, apenas reproduz de forma mais branca as suas produções culturais. Porém, na tentativa de traçar empoderamentos femininos, é preciso fazer um recorte de orientação sexual. Isto é, debater a sexualidade de mulheres lésbicas, bissexuais, pansexuais etc. E como muitas vezes são usadas como um objeto satisfatório para o homem, fazendo desse corpo a realização do seu fetiche. Ainda assim, é mais do que essencial interseccionalizar essa temática de forma a não ser apenas cisnormativa. Para que uma estrutura em que mulheres cis, mulheres trans, travestis e intersexo alimentam e aguçam os sentidos do homem as tratando apenas como um despejo possa ser compreendida.

Traçar essa temática é reescrever inúmeras formas de acometer esse fetiche. Uma delas carrega consigo uma conduta e comportamento que apaga a orientação sexual em questão e a coloca apenas como moda. E a moda gera uma tendência, e para ser tendência existe uma carência do que é estar no hype. Em outras palavras, ser uma mulher lésbica, por exemplo, em sua maioria, está conectado à juventude.

Quando uma mulher de terceira idade reivindica e se diz lésbica, uma reação de espanto e nojo é criada. Diferentemente de quando são duas adolescentes mais do que se dizendo, se relacionando. Além disso, esse fenômeno captura diferentes narrativas para a sua fantasia. Assim sendo, cabe a narrativa em que duas mulheres cis se sexualizam e se relacionam dentro de um ménage com o foco do e para o homem. Ou cabe também a narrativa em que duas mulheres trans e travestis realizam o mesmo contexto. Existem casos também onde o homem cis hétero fetichiza a mulher cis e a travesti se relacionando. Logo, o que aguça o seu prazer e/ou orgasmo é presenciar a cena onde essas duas feminilidades produzem relação sexual. Duas vertentes estão em jogo e sendo observadas por um viés misógino, transfóbico e, sobretudo, genitalizador: são a vagina e o pênis que demarcam a característica de cada uma delas nesse ato, tornando-as especiais e únicas por isso.

Sendo assim, com tudo destacado e ponderado dentro deste artigo, termino a minha contribuição questionando quais são os empoderamentos que nos interessam para entender a quem eles interessam. Ninguém ou nenhuma instituição, sendo ela religiosa ou não, mandará na nossa raba.