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Sou Bissexual: relato de uma estudante do colégio adventista

Sou Bissexual: relato de uma estudante do colégio adventista

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Por volta dos meus dezesseis anos, concluí, com muito receio, que eu não era heterossexual. Lembro-me de inúmeras noites sem sono, longas e horríveis crises de pânico, crises de choro e acessos de raiva. Lembro-me de sentir culpa e um medo profundo de que alguém descobrisse. Como eu compartilharia aquilo com minha família? Como contaria para minha mãe? O único resultado possível era rejeição.

Lembro-me de olhar para o céu e sentir seu peso, seu julgamento. Lembro-me de pensar que o Deus que por tanto tempo declarou amor por mim, agora só poderia me odiar.

Ali, todos os momentos bons, o acolhimento e o sentimento de pertencer… se tornaram memórias distantes – mesmo que ninguém além de mim soubesse.

E, talvez segundo a lei de Murphy, esse tema passou a ser discutido com mais e mais frequência. Na época, estudando em um colégio adventista, eu ouvia cada dia mais sobre o meu pecado. Ouvia sobre minha condenação. Ouvi alguém, na escola cristã onde estudava, chamar homossexuais de nojentos, de impuros e ouvi minha família usar palavras como “abominação” para se referir àquelas pessoas, um grupo do qual eu agora fazia parte.

Sem contar as inúmeras vezes que escutei conselhos precisos, como: “lute contra isso”, “essa não é a sua natureza”. Não eram direcionados a mim, porque eu era um segredo trancado a sete chaves, porque apesar de serem endereçados àqueles ao meu redor, eu não saía ilesa – até por saber que, caso alguém me descobrisse, eu receberia essas belas palavras.

E seriam anos até que eu sentisse conforto em relação à minha sexualidade. Anos de aprendizado e crescimento, para conciliar minha fé com um pequeno aspecto de mim que eu não escolhera. Mas não foram anos solitários de luta; minha mãe se mostrou muito prestativa, não só me aceitando como ampliando sua visão de mundo, procurando aprender. Meu irmão e alguns primos também demonstraram seu apoio, mesmo que de formas sutis. Meus amigos me defenderam, me confortaram, apesar de terem sido poucos os ataques abertamente homofóbicos direcionados a mim, mesmo no ambiente da igreja ou escola adventista.