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Princípio pluralista e diversidade sociocultural

Princípio pluralista e diversidade sociocultural

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 A modernidade trouxe consigo uma série de desafios que outrora não eram vistos. Isso se deve, dentre outros motivos, ao avanço tecnológico e ao acesso à informação. Essas novas possibilidades abriram um novo mundo de ideias e concepções que, por um lado, ofereceram novas perspectivas, e, por outro, nos convidaram a repensar e enfrentar nossos antigos hábitos, costumes e posturas. Nesse sentido, todas as instituições sociais e políticas, bem como os grupos culturais, estão envoltas nesse quadro.

Diante desse cenário, muitas são as teorias e propostas metodológicas que se apresentam na tentativa de se ler e compreender essa nova realidade. Dentre essas alternativas, temos o princípio pluralista, desenvolvido e proposto pelo teólogo Claudio Ribeiro.

De modo geral, o princípio pluralista parte da constatação de que vivemos em uma sociedade plural, ou seja, um espaço onde os grupos são compostos por sujeitos que conservam características próprias e especificidades peculiares, muitas das vezes distantes do senso e dos padrões comuns. Desses grupos, grande parte é marginalizada e constantemente oprimida por sua visão não ortodoxa da realidade. Em geral, vivem e atuam de fato nas fronteiras entre comportamentos conservadores e reações pluralistas e progressistas. Ao constatarmos essa diversidade plural que emerge em nosso meio, torna-se tarefa fundamental pensarmos formas de lidar com esse cenário, com o objetivo da promoção da liberdade, tolerância e respeito mútuo.

Partindo da ideia central do princípio pluralista, certificamos que, embora uma mesma experiência ou intuição fundamental possa estar por trás dos processos históricos de desenvolvimento cultural no surgimento de uma religião ou de um espectro político, ou mesmo na forma de se conceberem conceitos sexuais e familiares, o que difere a visão de cada grupo é a maneira como interpretam e exprimem essa percepção em termos de imagens, narrativas, estatutos, crenças etc. Temos aqui o ponto nevrálgico a ser trabalhado. É necessário estimular e acentuar os pontos comuns presentes em cada concepção de mundo, ao mesmo tempo que se ressalta a diferença necessária e inevitável, preservando as características próprias e identitárias dos grupos religiosos.

Como exemplo, utilizemos a noção de um amor universal que surge das mais variadas cosmovisões. A maioria das pessoas sente, em algum momento da vida, que é muito importante amar, seja o próximo, seja a natureza, sejam os animais etc. Esse amor produz a necessidade de se desenvolverem valores que têm como objetivo sua concretização, como noções de justiça, de igualdade e de paz, que em geral são paradigmáticas. Entretanto, embora seja uma intuição aparentemente natural, cada grupo cultural buscar explicar esse sentimento das mais variadas formas.

Para as religiões, de modo geral, o amor faz parte do processo de revelação e manifestação do divino. Ou seja, somente amamos a partir do momento que ouvimos a voz sagrada da divindade e colocamos em prática sua vontade. Por outro lado, para um ateu, esse sentimento pode ser parte de um processo psicológico e natural, ou mesmo uma necessidade de conformação social, que não tem qualquer relação com algo externo a nossa realidade.

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Esses dois pequenos exemplos servem para mostrar que, apesar de sermos semelhantes no ponto comum (a realidade do amor), divergimos na expressão explicativa (revelação divina, conformação social ou psicológica). Essas diferenças são compreendidas na medida em que as experiências de vida e os contextos sociais e históricos são muito pessoais e, por isso, produzem ideias próprias.

A diversidade sociocultural é, portanto, o local onde as convergências devem se fortalecer, e as diferenças, ressaltadas, produzindo uma sociedade na qual os direitos individuais e dos grupos sejam respeitados, e as características específicas, celebradas.