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O caminho pluralista da tolerância religiosa

O caminho pluralista da tolerância religiosa

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Ser diferente no contexto de sua fé no Brasil deveria ser uma situação mais do que natural, considerando o contexto plurirreligioso do país. No entanto, o que se percebe é o surgimento de expressões de intolerância, urgindo a construção de caminho inverso a essa violência. Diante desse debate, por onde iniciar um caminho de combate à intolerância religiosa que seja coletivo e plural?

A linha que define esse caminho passa pela vivência da tolerância, definida pela Unesco (1995, p. 11) como “o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos e implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo”.

Tal concepção avança para o ecumenismo, entendido como a organização entre denominações cristãs em uma tentativa de levar a cooperação e a união em todos os crentes em Cristo, e para o diálogo inter-religioso, que é “o conjunto de relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outras expressões de fé para um conhecimento mútuo e um enriquecimento recíproco na obediência à verdade e no respeito à liberdade” (ELWELL, 1992). A teóloga oriental Kwok Pui-Lan (2015, p. 21) amplia a visão quando propõe um diálogo interfé em que “as conversações e interações estão acontecendo entre pessoas que pertencem a credos, e não entre religiões em si, entre religiões como sistemas de crenças e práticas”.

É nesse contexto que se insere o princípio pluralista, apresentado por Claudio Ribeiro (2020), como uma rota que permite outros pontos de vista, autocríticas para diálogo e formas de alteridade e de inclusão. A alteridade é compreendida como uma característica, estado ou qualidade de poder ser distinto e diferente.

O princípio pluralista abre as portas para um novo olhar acerca da alteridade, que sai de sua conceituação como uma qualidade do ser, mas se transforma em um encontro do ser com a sua divindade, com a natureza, com a história e, primeiramente, consigo mesmo. Tal perspectiva ampla propicia relacionamentos igualitários nos espaços de vivência, em uma nova construção da tolerância (RIBEIRO, 2020).

Além disso, o princípio pluralista também renova a visão que temos a respeito do ecumenismo, o diálogo inter-religioso e o diálogo interfé, pois se entende que ele não anula as identidades religiosas nem as absolutiza. Ele se concretiza por intermédio de relações justas, dialógicas e propositivas entre elas, potencializando o plano utópico das experiências inter-religiosas e de diálogo interfés (RIBEIRO, 2020).

O princípio pluralista direciona na construção de uma rota pela qual toda a humanidade possa caminhar em alteridade, reconhecendo que ninguém está sozinho e que nenhuma opinião ou conceito é único nesse universo, incluindo a sua crença. Porém, a jornada da tolerância precisa ser vivida diariamente, em uma eterna demolição de muros internos e externos, mas sem soltar a mão de ninguém.


Referências

ELWELL, W. A. Enciclopédia histórico-teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992. v. II.

PUI-LAN, K. Globalização, gênero e construção da paz: o futuro do diálogo interfé. São Paulo: Paulus, 2015.

 VEJA TAMBÉM
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RIBEIRO, Claudio de Oliveira. Alteridade. In: RIBEIRO, Claudio de Oliveira; ARAGÃO, Gilbraz; PANASCIEWICZ, Roberlei (Orgs.). Dicionário do pluralismo religioso. São Paulo: Recriar, 2020. p. 15-23.

RIBEIRO, Claudio de Oliveira. Princípio pluralista. In: RIBEIRO, Claudio de Oliveira; ARAGÃO, Gilbraz; PANASCIEWICZ, Roberlei (Orgs.). Dicionário do pluralismo religioso. São Paulo: Recriar, 2020, p. 220-227.

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Declaração de princípios sobre a tolerância da UNESCO. Genebra: Unesco, 1995. Disponível em: www.oas.org. Acesso em: 7 dez. 2022.