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Religiões na Amazônia

Religiões na Amazônia

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Falamos em mosaico das religiões na Amazônia propositalmente. Em primeiro lugar porque os mosaicos, na origem grega da palavra, designam uma obra das musas, que tinham por função inspirar a criação artística. Religião é criação humana, fruto da diversidade de culturas, das maneiras com as quais, nos diversos contextos os seres humanos se relacionam com o cosmos. O mosaico que se pretende compor neste número não é completo, nem definitivo. Talvez eles sejam algumas peças a compor este panorama mais amplo.
Na nossa atualidade imediata, a Amazônia foi fruto de disputas de discursos de vários lados. Primeiramente, porque há dois anos o Papa Francisco convocou um sínodo pan-amazônico para a Igreja Católica repensar seus caminhos na Amazônia internacional. Também neste ano de 2019, com a ascensão de um governo cuja pauta ambiental é amplamente questionada, houve um “dia do fogo” na Amazônia, com o intuito de pressionar a flexibilização das leis ambientais em favor do agronegócio. Um outro ponto que chama a atenção é a penetração de grupos religiosos cristãos nas tribos indígenas tendo em vista a converter os índios ao Evangelho, gesto semelhante ao dos missionários-colonizadores do século XVI. Destaco, aqui, a película Ex Pajé, de Luiz Bolognese, na qual um pajé passa a questionar a sua prática religiosa em meio a uma conversão em massa da tribo a uma igreja evangélica. Além desses temas graves, tratar de religiões na Amazônia, é também tratar de uma das maiores peregrinações católicas do mundo, o Círio de Nazaré, que se constitui como um pilar importante da cultura paraense.
Há muitas peças e interesses nesse mosaico. Interesses neocolonizadores de uma sanha cristã de dominar povos, de um capital que quer se apropriar do bem coletivo.
O presente número quer ajudar o leitor a colocar mais umas peças no mosaico, a identificar os componentes culturais e religiosos da maior região geográfica do país e que, no entanto, é por vezes ignorada pelas mídias especializadas e negligenciada pela academia. Que as musas, os encantados, os espíritos da floresta e dos ancestrais auxiliem a compreensão do problema posto.

Propomos elementos para dialogar. Boa leitura.