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O princípio pluralista

O princípio pluralista

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As reflexões que compõem esta edição da Revista Senso são oriundas da seleção dos textos mais destacados que foram apresentados no Minicurso de Verão: “O que é o princípio pluralista”, oferecido por mim pela Internet. As pessoas inscritas foram desafiadas a produzir um pequeno e sintético texto após terem contato com as videoaulas, articulando os conteúdos ali explorados com suas pesquisas e temas de interesse. O que resultou foi uma variedade de ênfases, perspectivas e preocupações.

A primeira vez que utilizei a expressão princípio pluralista foi em uma conferência no Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), realizada no dia 17 de agosto de 2017, cujo tema foi “Pluralismo religioso na América Latina”. Eu estava bastante motivado pelas experiências de diálogo inter-religioso que se abriam para mim, especialmente no contexto de presença em fóruns inter-religiosos e em outros canais de diálogo, tanto em nível local (em São Paulo, onde eu residia à época) quanto nacional, assim como também nos espaços internacionais criados pelo Programa de Cooperação e Diálogo Inter-Religioso do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), nos quais tive o prazer de participar.

Após a conferência, o Programa da PUC teve a gentileza de publicar o texto na Revista de Cultura Teológica sob o título “O princípio pluralista: bases teóricas, conceituais e possibilidades de aplicação”. No mesmo ano, o Instituto Humanitas Unisinos (IHU) publicou em seus Cadernos de Teologia Pública, com o título “O princípio pluralista”, um aprofundamento daquela reflexão, o qual teve boa circulação e aceitação em setores dos estudos de religião.

Depois disso, estive bastante reticente, pensativo e até receoso em organizar materiais envolvendo outras pessoas com a temática do princípio pluralista. Os motivos parecem ser óbvios, pois se trata de um debate em torno de uma perspectiva que eu tenho formulado e divulgado, o que poderia, à primeira vista, ser interpretado, inclusive por mim, como uma atitude personalista e pedante. Além disso, poderia soar como uma iniciativa artificial e não ser necessariamente fruto da ressonância da importância do tema, mas um esforço do próprio autor em divulgar seu trabalho.

Esse receio começou a ser quebrado quando observei o interesse de vários estudantes e de alguns colegas sobre a noção do princípio pluralista, tal como eu o concebo. Aqui e ali fui encontrando referências a ele em artigos, dissertações e teses de diferentes procedências. Considerei, então, que poderia arriscar alguns passos. De lá para cá, muitos artigos científicos, dossiês em revistas acadêmicas e livros foram produzidos, o que gera certa satisfação e, ao mesmo tempo, ainda algum temor. São caminhos sendo abertos…

Essas análises foram estruturadas inicialmente no contexto do Grupo de Pesquisa “Teologia no Plural”, certificado pela Universidade Metodista de São Paulo até 2017, onde trabalhei por quase duas décadas, e tiveram continuidade nos Programas de Pós-Graduação em Ciência(s) da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2018-2019) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (2019-2021), onde atuei. Porém, o desenvolvimento do trabalho encontrou solo ainda mais fértil no Grupo Interinstitucional de Pesquisa “Espiritualidades contemporâneas, pluralidade religiosa e diálogo”, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião (Anptecre). Por esse motivo, abrimos esta edição com uma síntese do trabalho de pesquisa desenvolvido por esse grupo.

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Os demais textos formam um caleidoscópio denso e agradável com diferentes aplicações do princípio pluralista. Um leque razoável de importantes temas foram tratados como o ensino religioso, a ecologia, a transdisciplinaridade, a tolerância religiosa, a noção de Jihad no Islã, a missão na fé cristã, formas de alteridade, tradições originárias, aspectos da decolonialidade, a espiritualidade.

Como os temas foram escolhidos livremente pelas pessoas que participaram do minicurso, algumas lacunas saltam aos nossos olhos. Expressões significativas na formulação do princípio pluralista não foram contempladas, como a realidade das religiões, espiritualidades e cosmopercepções afro-brasileiras, as teologias feministas, queer e as experiências religiosas de inclusão no âmbito da sexualidade humana, em especial as dos grupos LGBTQIA+, além de outras dimensões importantes que formam o indescritível quadro de diversidade religiosa e cultural de nossas terras. No entanto, a riqueza que há nos textos, especialmente por terem sido produzidos na forma de síntese, poderá gerar interesse, novas reflexões e uma colaboração efetiva com os estudos de religião.

Boa leitura!