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Religião À Brasileira

Religião À Brasileira

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Não são poucas as vezes que vemos pessoas exaltando que o Brasil é um país diverso, multicultural, de vários rostos e crenças. Essa diversidade pode ser observada sem muito esforço intelectual e acadêmico: manifestações religiosas, sincretismo religioso, música. São muitos os elementos que fazem a diversidade saltar aos nossos olhos.

No entanto, essa diversidade observável não se traduz em igual reconhecimento por parte da sociedade dessas diversas formas de crer, não crer e ser. São muitas as vezes que nos chegam notícias de crimes de intolerância religiosa ou de tentativas de fiéis que professam a religião hegemônica no Brasil atuarem em lobby nos poderes constituídos para fazerem prevalecer como lei de Estado seus costumes.

Nesse caldo cultural diverso, encontramos, também, inúmeras iniciativas de pessoas nas diversas matrizes religiosas de reconhecer a diversidade religiosa, propor caminhos de diálogo para a construção de uma sociedade menos desigual e agirem juntas nessa construção.

Esses fatos exigem de todas e todos nós, acadêmicas/os cidadãs/ãos o esforço em visibilizar essa diversidade para além dos círculos, por vezes herméticos, dos congressos, simpósios e fazer a reflexão acerca das nossas diferenças e diversidade chegar a um maior número possível de leitores. Nesse aspecto, cientistas da religião têm um compromisso político-social de fundamental importância para o reconhecimento do direito fundamental à liberdade de crença e de consciência, preconizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em nossa constituição.

Esse compromisso se faz ainda mais urgente no contexto atual, de uma sociedade polarizada e, ao mesmo tempo, mal informada. Não são poucos os canais de vídeo, blogs, perfis de redes sociais nas quais pessoas, muito convencidas de seres os portadores de uma verdade única e imutável sobre Deus, o ser humano e o mundo, com argumentos pseudocientíficos, vociferam contra toda e qualquer possibilidade de reconhecimento do direito à diferença que é inerente a cada ser humano.

Com esta edição, a Revista Senso e as autoras e autores que gentilmente escreveram para nós, mantemos nosso compromisso de intelectuais engajados na construção de uma sociedade que reconheça a diferença como direito. Em contextos como os nossos uma excessiva isenção científica corre um sério risco de colaborar com a violação a direitos humanos fundamentais.

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Infelizmente, nesse editorial precisamos reafirmar o que escrevíamos no nosso primeiro número. Em tempos como os nossos, dialogar é um ato revolucionário. Mas, há que se acrescentar, não somente dialogar em tempos de polarização é ato revolucionário, mas também reconhecer a provisoriedade e a historicidade de toda crença e o desapossamento de qualquer verdade absoluta.

A todas e todos uma boa leitura.