O dia 8 de março é dedicado à comemoração do Dia Internacional da Mulher e, na atualidade, tornou-se uma data festiva, com flores e bombons. No entanto, é importante enfatizar sua origem marcada por fortes reivindicações políticas, tais como trabalhistas, igualdade de gênero, direitos políticos e civis. Para alcançar nossos objetivos, ao longo do tempo, usamos de vários mecanismos como greves, passeatas, panfletagens e protestos, sempre marcados por perseguições do Estado, da polícia e de vários outros segmentos da sociedade. Logo, o dia o dia 8 de março, representa uma data que simboliza a busca de igualdade social e política entre homens e mulheres, em que as diferenças biológicas sejam respeitadas, mas que não sejam utilizadas como argumento para subordinar e inferiorizar a mulher.

Foto: Circuito Fora do Eixo
No II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem, em 1910, Clara Zetkin* propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir uma data. Contudo, afirma-se, equivocadamente, que Clara teria proposto o dia 8 de março para lembrar operárias mortas num incêndio em Nova Iorque. Esse incêndio não aconteceu no dia 8 março, mas sim no dia 25. Por isso, não podemos relacionar a data com o evento. É muito provável que o sacrifício das trabalhadoras em Nova Iorque tenha se incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres. Mas, o processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher, já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e europeias há algum tempo. Há registros anteriores a essa data que trazem referências à reivindicação de mulheres para que houvesse um momento dedicado às suas causas**.
Consideramos, de maneira geral, que o movimento feminista se iniciou na Revolução francesa. No contexto de colapso do Antigo Regime as mulheres, participando do processo revolucionário, criticaram os diversos elementos que as sujeitavam aos homens nas suas mais diversas modalidades: política, econômica, social, familiar, educacional, cultural, jurídica, entre outras. Olympe de Gouges, por exemplo, era uma vanguardista. Em um de seus panfletos mais conhecidos, a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, ela fez uma oposição aberta ao documento feito exclusivamente para os homens – Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 – documento símbolo da Revolução francesa que nada mencionava os direitos femininos. Os revolucionários, marcados fortemente pelo patriarcalismo, não perdoaram a ousadia de Olympe e a condenaram à morte, sendo guilhotinada em 1793.
Em 1848, as mulheres inseridas no mercado de trabalho, devido às necessidades de mão de obra da revolução industrial, iniciam sua dupla jornada: trabalho fora e dentro de casa. As dificuldades nas condições de trabalho desencadearam a criação de associações feministas que reivindicavam voto, igualdade jurídica e equiparação de salários. Nos Estados Unidos e na Inglaterra iniciam-se movimentos e convenções de mulheres que também lutavam pela abolição da escravidão.
A busca pelo direito ao voto representou uma forte marca da luta das mulheres no início do século XX. Essas mulheres, mais conhecidas como sufragistas, enfrentaram toda forma de resistência em busca desse direito. Essa luta foi interrompida pela 1ª Guerra Mundial – 1914 a 1918 – e foi, devido a esse conflito, que temos o fortalecimento dessa reivindicação. Durante os confrontos, os homens deslocados para os campos de batalha foram substituídos em vários setores do mercado de trabalho pelas mulheres: policiais, bombeiros, trabalhadores nas minas, motoristas de bonde, dentre outras atividades foram ocupadas por mulheres. Como manter a exclusão desse grupo que durante os quatro anos de guerra desempenharam as funções masculinas? Eis que o direito ao voto é conquistado: Noruega – 1913; Rússia – 1917; Inglaterra – 1918; Alemanha – 1918; Estados Unidos – 1920; Uruguai – 1927; Brasil – 1932***.
Após a 2ª Guerra Mundial – 1939 a 1945 – o movimento feminista busca em suas reivindicações a liberdade feminina acerca de seu corpo, pensamentos, aborto, e mais uma vez a igualdade salarial e o acesso a cargos que ainda eram exclusivamente masculinos. Neste contexto, uma obra contribuiu para o movimento: “O Segundo Sexo da Simoni Beauvoir” (1949) na qual a autora aborda as raízes da opressão feminina e analisa o desenvolvimento psicológico da mulher, bem como as condições sociais que interferem neste.
Os anos de 1960 a 1980 foram particularmente importantes para o mundo ocidental: Guerra do Vietnã, Hippies e Maio de 1968. Nesse contexto, tivemos a publicação da obra “A Mística Feminina” da Betty Friedan (1963). Essa obra, em especial, é considerada o manifesto mais realista do movimento de libertação da mulher, mundialmente conhecido como: Women’s Liberation. O movimento feminista lidera protestos e manifestações que buscavam o fim da descriminação do gênero, criticavam os papéis de gênero, violência contra a mulher, sexualidade, saúde, bem como liberdade total para decidir sobre seu próprio corpo. Temáticas pertinentes até hoje.
Ao finalizar este pequeno artigo, que perpassa rapidamente a história do feminismo, retomo Olympe de Gouges que disse: “Se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve ter igualmente o direito de subir à tribuna”, bem como Simone de Beauvoir “Basta uma crise política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados” para que sempre nos lembremos de que o conceito de feminismo deve ser entendido como a ação política das mulheres, englobando teoria, prática e ética propondo que mulheres transformem a si mesmas e ao mundo.

Fotografía Gabriela Mathieu – Encuentro de Feministas Diversas
Notas Complementares