[A Love Letter to Queer Latin American Theologians]
A minhxs queridxs, lindas, bitches e amigues
Saudações da gringa! Eu escrevo essa carta de um lugar de gratidão pelas conexões que fizemos nas duas conferências sobre Teologia Queer e mantidas através das amizades de Whatsapp. Eu conheci muites de vocês na Costa Rica, em agosto de 2022, quando eu estava me assumindo como queer, não-binária e poliamorosa ao mesmo tempo em que trabalhava num doutorado em uma universidade católica dos Estados Unidos. Pula para junho de 2022, quando esse círculo de conexões se expandiu em El Salvador e continuou através dos encontros online do grupo de pesquisa e Indecências. Meu ativismo e docência devem muito a essas relações.
Eu escrevo essa carta de amor de Chicago, Illinois, EUA, com o coração pesado. Ainda que Democratas e Republicanos tenham financiado igualmente a violência política e as fronteiras hiper-militarizadas, as políticas do segundo mandato de Trump têm particularmente induzido ao medo. O luto de testemunhar sequestros/deportações em massa nos Estados Unidos reforça algumas das ficções brutais que tentam separar os Estados Unidos da América Latina e do Caribe. Essas ficções incluem o pagamento de despesas advocatícias, arame farpado, drones e burocracia que dão mais liberdade de movimento a armas, drogas e produtos de consumo do que a seres humanos. Autoritários arrogantes terceirizam a ambição capitalista, a supremacia branca e armas de guerra à força, pedindo conluio em todos os continentes. A cis-heteronormatividade é inseparável dessas lógicas de dominação. Nós conhecemos essas dinâmicas bem demais em nossos contextos. Como podemos resistir, desafiar, borrar e tornar queer as linhas de dominação desde dentro e desde fora? Como podemos desafiar os padrões que definem legitimidade, respeitabilidade e decência dentro de instituições religiosas, na academia e nos estados nação? Teólogues latino-americanes e do Caribe têm aprofundado minha compreensão e, por isso, eu preciso expressar minha gratidão.
Agradeço por compartilhar comigo histórias e por me mostrar como as minhas próprias estão conectadas com as de vocês. Às vezes, nós estamos dolorosamente ligadas uma à outra através desses sistemas opressivos. Nós temos diferentes trabalhos de cura a fazer quando lidamos com essas divisões, dinâmicas de poder e paisagens que se imprimem em nossos próprios corsos, criando rupturas internas, altos e baixos psicológicos e cartografias espirituais que estão cindidas. No entanto, nossas relações também animam as inegáveis interconexões entre América do Norte, Central, do Sul e Caribe, na forma como intelectuais e ativistas cruzam fronteiras para fazer seu trabalho teológico queer, mantendo conexões profundas em múltiplos países ao mesmo tempo em que testemunham a brutalidade dos sistemas globais de opressão.
Agradeço por reforçarem que as implicações do nosso trabalho, o “e daí” da teologia, nunca deveria ser algo que vem depois. Ainda que tenham me dito que essas implicações práticas eram uma “distração” do meu “real trabalho” na academia dos EUA, eu sempre encontrei companheirismo com pessoas que sabiam que esse trabalho não fazia sentido nenhum se não mudasse as condições materiais para pessoas resistindo a dominação. Agradeço por demonstrarem como a teologia cristã tem um imperativo moral de confrontar diretamente o nacionalismo cristão que apoia a homofobia, a bifobia, a transfobia, a misoginia, o racismo, o classismo, o nacionalismo, o capacitismo, o colonialismo, o imperialismo e a miríade de sobreposições dessas categorias. Agradeço por proclamarem sem medo que o cristianismo foi sempre influenciado por múltiplas fontes religiosas e culturais; a ficção do separatismo/pureza religiosa frequentemente reforça as outras ficções mencionadas acima.
Agradeço por me encorajarem a parar de pedir desculpas a sistemas opressivos de legitimação, a ocupar espaço, a ser corajosa, sexual e viva como uma parte crucial do meu trabalho como teólogue. A dançar e saber que Deus é a dança. Agradeço por corporificar um espírito de auto autorização, me lembrando que a plataforma mais legítima a partir da qual eu devo falar é meu próprio corpo. A ousar encontrar a Trindade num beijo a três. A verdadeiramente desvestir as roupas da pureza e piedade ao mesmo tempo tendo a coragem de rearranjar nossas entranhas no chão, olhando para as cruas condições de vida que a maioria tenta esconder e cobrir.
Em um tempo em que as conexões entre os Estados Unidos e a América Latina estão ainda mais evidentes para mim, eu agradeço a todes vocês por serem um modelo de reivindicação de nossas indecências enquanto expandimos redes de resistência e alegria para além de fronteiras nacionais, sexuais, de gênero e raciais.
Con besos/bjs e um abraço/abrazo enorme.
5 de Junho de 2025