O Brasil apresenta, em sua constituição, uma imensa diversidade de etnias e culturas. Essa diversidade étnica e cultural de nosso país pode ser observada também nas manifestações religiosas, que exprimem as várias formas de pensar e de se expressar do povo brasileiro.
A prática de violência contra os adeptos de qualquer tradição religiosa fere o artigo 5º da Constituição Federal do Brasil, que determina no seu caput: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (1988). É estabelecido ainda, no inciso VI, do referido artigo: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias” (1988).
Dessa maneira, o preconceito religioso é uma manifestação de violência, que quebra a harmonia e o respeito, amparados pelos princípios do diálogo, tolerância e paz.
A religião é um fenômeno de intensa importância para os seres humanos e para a vida em sociedade, e se manifesta através de diferentes formas. No entanto, algumas atitudes ou práticas de indivíduos ou grupos, geralmente relacionados a certas crenças religiosas e, em alguns casos, a tradições e instituições religiosas, podem dificultar a liberdade, o respeito e a tolerância nesse âmbito. A religião se manifesta como um advento social e nesta perspectiva, torna-se difícil imaginar a sociedade sem manifestações religiosas. A variedade religiosa é, sobretudo, humana.
É possível verificar em alguns movimentos religiosos a adoção, até sem perceber, do ódio e do fundamentalismo como justificativa para a defesa de seus dogmas, sua doutrina e sua fé, o que é extremamente prejudicial para a tolerância religiosa. A discriminação religiosa tem bases profundas no desconhecimento sobre o fenômeno religioso que ocorre nas diferentes tradições religiosas. Cada religião possui suas peculiaridades, essas diferenças, aliadas à falta de conhecimento sobre determinada religião, muitas vezes, sustentam o discurso de ódio, levando à intolerância, ao preconceito e à violência religiosa.
As Ciências da Religião, nos conduzem a olhar e analisar cada religião em sua especificidade, em sua particularidade, singularidade e unidade próprias, e não a partir de um modelo ideal de religião, que pressupõe que a diferença seja sacrificada em nome de uma unidade abstrata e generalizante. Dessa forma, a ideia da tolerância surge ao olhar para cada religião em sua singularidade
As Ciências da Religião, nos levam a pensar na importância de não se uniformizar as tradições religiosas, respeitando assim a diferença e singularidade de cada religião. Esse movimento consiste na alteridade religiosa, princípio defendido pela disciplina e na sua perspectiva, os estudos devem se concentrar na análise sobre o fato religioso, sem que se estabeleça juízo de valor, direcionando assim o olhar para o fato religioso.
A Tolerância em sua significação ética pode ser compreendida como a qualidade de conviver com o diferente. Com o diferente, não com o inferior. Assim, a pessoa não é tolerante porque é superior, mas porque reconhece no outro, alguém que possui uma posição diferente da sua.
As Ciências da Religião proporcionam àquele que se forma na disciplina reconhecer, considerar e valorizar a diferença religiosa, como um caminho para a não disseminação do preconceito e da violência religiosa, contribuindo assim para o convívio mais harmônico e respeitoso entre as diferentes tradições religiosas.
Referências
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>.
Mestranda em Ciências da Religião pelo PPGCR da Puc Minas, como bolsista da Capes, sob orientação do prof. Dr. Fabiano Victor Campos. Licenciada em Pedagogia com Aprofundamento em Ensino Religioso, pela Puc Minas em 2018. E-mail: alves.amandita@gmail.com