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A ancestralidade no pós-morte

A ancestralidade no pós-morte

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A Ancestralidade

De acordo com Udo Becker, na obra Dicionário de Símbolos, ancestrais são “todas as pessoas dos quais alguém descende”, fundamentalmente, são aqueles que antecederam no âmbito familiar.

Em várias partes do globo, os antepassados ou ancestrais são venerados e até mesmo divinizados por seus sucessores. Em alguns casos podem dar orientação, em outros proteção, ou ambos. Dessa forma se garante a identidade e a unidade entre as gerações e é por isso que as pessoas fazem oferendas aos seus ancestrais, sejam sangue e carne (animais ou humanas), sejam frutas, e lhes fazem rituais de agradecimento.

A relação entre os descendentes e seus ancestrais pode ser esquematizada da seguinte maneira:

Tomando como exemplo os Kubas, que ficavam localizados na atual República Democrática do Congo, nos rituais de agradecimento, eles gravavam em máscaras, a imagem dos ancestrais e elas acabavam imbuídas de forças protetoras,  e, normalmente, eram utilizadas nos ritos de iniciação dos meninos.

Em certos povos, como os Egípcios e os Chimus, do Peru, os antepassados são mumificados ou seus nomes são passados pelas gerações, como ainda no caso dos egípcios, “Faraó”, mais que um título real, era um símbolo de poder, o nome que carregavam da sua descendência divina.

A veneração dos Ancestrais

Segundo Kindersley, no livro Sinais & Símbolos: Guia Ilustrado das Origens e dos Significados, “para muitos povos, o respeito pelos ancestrais faz parte da aceitação das tradições e da estrutura da sociedade”, assim sendo, quando os antepassados são homenageados, a identidade das pessoas enquanto um povo é afirmada, e, porque receberam dos antigos a terra em que vivem, para estes indivíduos, os antecessores devem ser lembrados ou cultuados.

Descendentes dos animais

Dependendo do quão próximas estão do totemismo ou animismo, algumas culturas tribais creem que são descendentes dos animais, seja no todo ou em algumas características e,  por este motivo, tais povos sentem uma ligação muito forte com o mundo selvagem. Os atributos dos animais ancestrais são simbolicamente importantes: o voo de um pássaro pode simbolizar a proximidade dos deuses,  as características de um mamífero podem simbolizar força, coragem, ou a capacidade de se movimentar furtivamente.

Tomando o exemplo dos Micmac, grupo étnico que viveu ao leste do Canadá, eles se afirmam descendentes de ursos, que representam a força, coragem e renovação. De acordo com o mito de origem do grupo, uma moça se casou com um jovem  e descobriu que a tribo dele era composta por ursos. Depois ela deu à luz a duas crianças gêmeas ursas, que podiam mudar de forma.

Descendentes dos Deuses

Em outros casos, algumas dinastias aliavam seus nomes ao de alguma deidade, seja para legitimar a sua linhagem, seja para manter um controle sobre as massas e súditos. Dessa forma,  se afirmavam como descendentes diretos dos deuses.

Tal ascendência dava para estas pessoas autoridade quase divina para que se afastasse qualquer pretendente “impuro” ao trono. Ainda seguindo o raciocínio de Kindersley “a descendência divina também simbolizava a qualidade do rei como intermediário entre o céu e a terra ou entre deuses e os homens”. Por conta disso, acreditava-se que o soberano também era possuidor de “poderes sobrenaturais”, assim como ele, junto com os sacerdotes, eram intérpretes da vontade das divindades. Como  exemplo disso, podemos retomar os Faraós já citados, se denominavam descendentes de Ísis e Osíris,  também se tem os imperadores japoneses que dizem descender da deusa do sol Amaterasu, e essa tradição é tão forte que até hoje os imperadores recebem o tratamento devido a uma deidade.


Referências

 VEJA TAMBÉM
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BECKER, UDO. Dicionário de Símbolos. [tradução, Edwino Royer]. São Paulo: Paulus, 1999.

KINDERSLEY, Dorling. Sinais & Símbolos: Guia Ilustrado das Origens e dos Significados. [tradução, Marcelo Brandão Cipolla] São Paulo. Editora WMF Martins Fontes, 2012.

MARTINS-MACIEL, Erenay. Espaçotempo & ancestralidade de matriz africana em terras caboclas. 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. doi:10.11606/D.48.2017.tde-04072017-104002. Acesso em: 2019-08-18.

O Livro das Religiões. [Editora, Camila Werner]; [Tradução, Bruno Alexander]. 2 ed. São Paulo. Globo Livros, 2016.


Filmes:

O REI Leão. Direção: Roger Allers e Rob Minkoff. Produção: Don Hahn. Estados Unidos. Walt Disney Pictures, 1994. 1 DVD (89 min).

PANTERA NEGRA. Direção: Ryan Coogler. Produção: Kevin Feige. Estados Unidos. Marvel Studios, 2018.1 DVD (134 min)