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“Ideologia?” Religião… Diversidade Sexual e de Gênero

“Ideologia?” Religião… Diversidade Sexual e de Gênero

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Vivemos em tempos sombrios. A marcação desses dias obscuros se dá, sobretudo, através da desinformação e por meio da construção de uma atmosfera do medo direcionado às diferenças. Nessa discussão, a Revista Senso cumpre, com seriedade e clareza, um dos seus principais objetivos: iluminar a realidade através de análises profundas e críticas.

Ao colocar em evidência a noção de ideologia — vinculada às discussões de gênero e sexualidade —, o número que apresentamos sinaliza algo urgente na cena contemporânea: à ideologia é dada a importância de formar as nossas percepções de mundo, de legitimidade (ou não) das existências e, além disso, de determinar quais vidas devem e quais não devem se manter presentes no jogo da vida comum. Sendo assim, o 12º número da Revista Senso assume uma atmosfera reflexiva em relação à noção de ideologia. Ele coloca em xeque, de forma exaustiva, o modo como a ideologia aparece na cena contemporânea, isto é, enquanto lugar de fabricação das interpretações que enquadram a realidade nas bases majoritárias no que tange a política, a religiosidade/espiritualidade,  a cultura, a estética, a moral, a econômica e as epistemes.

Pensamos que a ideologia, nessa modalidade, ou seja, atrelada às bases majoritárias da vida política, opera como uma tecnologia de poder que contorna e desliza pela realidade, de modo nocivo. Nessa dicção, somos incitados a colocar em evidência uma potência de poder que deseja ardentemente aniquilar a diferença para manter o seu estatuto de continuidade, domínio e segregação.

É importante grifarmos que um mundo que negligencia a diferença se estrutura nas bases da intolerância. Essas bases do poder majoritário, ao acusar grupos minoritários de se valerem de ideologias, escamoteiam o seu real interesse: de recuperar uma perspectiva hegemônica, enfraquecedora e “legitimadora” dos processos agudos de violências estruturais.

Uma edição com esta que apresentamos se torna importante justamente contra essa ideologia hegemônica e destrutiva que, ao negar a sua relação com o mundo e, mais, ao forjar uma realidade que maquia os seus próprios interesses, constrói e retroalimenta a composição de um inimigo comum. Nessa construção do inimigo comum, o outro e a sua diferença, é passível à destruição, posto que a sua presença causa um mal estar nesses que, dia após dia gozam das dinâmicas de um poder centralizado, contínuo e nada afeito à pluralidade de ideias, afetos, crenças e perspectivas de mundo.

Oferecemos nesse número a imersão na construção de um novo olhar. A composição dessa nova lente desliza pela diversidade como um marcador positivo e integralmente correlato à condição humana e, de forma intrínseca e dialógica com as múltiplas espiritualidades e religiosidades. Pensaremos juntos na diversidade como um elemento central para construção de um mundo mais democrático e constitutivo de um espaço político polissêmico.

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O debate é introdutório, mas ansioso por novas forças  inventivas de consciência, isto é, de novas ideologias. Nos distanciamos, no entanto, das modalidades ideológicas que forjam o mundo e as relações em órbitas destrutivas. Sendo assim, nos aproximamos das percepções que estão profundamente ciosas do bem comum e da potencialização da vida. Por fim, agradecemos profundamente a Humberto Souza e a Sérgio Junqueira pela curadoria e organização deste número.

Boa leitura a todas, todos e todes.

Revista Senso