Para além do tapetinho: dia do Yoga, uma data para todos
No dia 21 de junho é comemorado o Dia Internacional do Yoga, decisão oficializada em 2014 pela ONU, juntamente com o aval de 175 países. A maioria de nós brasileiros associamos a prática como um exercício puramente físico, porém, o Yoga surgiu há milhares de anos atrás no ceio das tradições religiosas do Hinduísmo, com regras e preceitos ordenados para se atingir uma evolução espiritual de experiência com Deus.
A palavra Yoga significa “união”, que denota a unidade entre mente, corpo e espírito. Sua datação de origem é imprecisa e repleta de narrativas religiosas pois, para o Hinduísmo o Yoga possui origem divina, é considerado um presente do deus Shiva, conhecido também entre os devotos como a representação divina da mesma. No entanto, o primeiro compilado sobre o Yoga é de Patañjali, que difundiu esse saber aproximadamente no ano de 150 da Era Comum, enquanto caminho espiritual.
A trajetória do Yoga pode ser considerada uma via que inclui alguns pilares fundamentais: o aperfeiçoamento ético e moral (boas ações como por exemplo a honestidade, bondade e compaixão); o desenvolvimento mental e consciente através da meditação profunda (buscando a consciência no momento presente por exemplo); o controle da respiração, considerado pelos yoguis (praticantes do yoga) como nossa energia vital (prana), que pode ser aperfeiçoado nas técnicas de pranayama (que significa literalmente “controle de prana”) e por fim, a consciência corporal que pode ser traduzida nas posturas ou ásanas, a parte mais conhecida e difundida por nós no Ocidente.
Existem várias modalidades e formas de se praticar o yoga, que vai variar de escola para escola, de tradição para tradição. A atividade se difundiu ao Ocidente somente no século XIX e nas últimas décadas vem sendo objeto de estudo científico e de pesquisas das mais diversas áreas do conhecimento, como por exemplo uma neurocientista de Havard, Sara Lazar (2005;2011;2012) que observou o aumento da qualidade de vida e da diminuição do estresse como fatores diretamente relacionados ao exercício do yoga e da meditação.
Em 2016 a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura) declarou a Yoga como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Além disso, a data comemorativa do dia 21 de junho marca o Solstício de Verão no Hemisfério Norte e foi escolhida por simbolizar aspectos religiosos da cultura hindu. Ambos acontecimentos convergem a uma única ideia: o de conscientização da população para os benefícios da prática, bem como o de valorização da mesma enquanto um exercício que engloba a saúde, medicina, artes, religião e educação.
É importante lembrar que não precisamos pertencer a tradição religiosa hindu para utilizar o Yoga em nosso dia-a-dia. Qualquer indivíduo que possui ou não uma pertença religiosa pode se beneficiar de seus resultados na diminuição da ansiedade, estresse, e contribuindo para a redução dos sintomas da depressão. Porém, devemos ter ciência de que a mesma não se reduz a um exercício puramente físico, tendo em vista que engloba o aperfeiçoamento mental e também espiritual (no sentido amplo do termo), ao passo que pode te ajudar a ser alguém melhor, mais centrado e presente na vida, para além do “tapetinho”.
Referências
LAZAR, S W. Meditation experience is associated with increased cortical thickness. USA: NIH Public Access, 2005.
LAZAR, S W. Effects of a yoga-based intervention for young adults on quality of life and perceived stress: The potential mediating roles of mindfulness and self-compassion. USA: Journal of Positive Psychology, 2012.
LAZAR, S. W. Mindfulness practice leads to increases in regional brain gray matter density. USA. Psychiatry Research Neuroimaging, v. 191, p. 36-43, 2011.
Doutoranda e mestra em Ciências da Religião, bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professora de Filosofia e pesquisadora nas áreas da Mente, Cérebro e Religião; Consciência na mística de tradições orientais como Islã e Hinduísmo, e de práticas religiosas como yoga e meditação. Membra do grupo de pesquisa Repludi – Religião, Pluralismo e Diálogo da PUC Minas. Membra do corpo editorial da Revista Horizonte e da Revista Interações.