Now Reading
Missão Ecumênica em Solidariedade aos Povos Indígenas

Missão Ecumênica em Solidariedade aos Povos Indígenas

© Tiago Greff

Desde 2015, organizações sociais e baseadas na fé realizam missões ecumênicas, para estarem junto a comunidades e territórios ameaçados e criminalizados. A participação é de representações de igrejas, organismos ecumênicos e inter-religiosos, organizações da sociedade civil e defensoras e defensores de direitos humanos. Duas missões ecumênicas estiveram no Mato Grosso do Sul, em 2015 e 2016, denunciando o interminável massacre dos Guarani Kaiowá naquele estado; no Pará, em Pau D’arco, em 2017, denunciando o assassinato de trabalhadoras e trabalhadores rurais; e no Rio Grande do Sul, em diferentes municípios, em 2017, em solidariedade aos povos indígenas Guarani e Kaingang. As visitas se dão sempre nos locais das comunidades, com momentos de escuta, de espiritualidade e de confraternização.

Após cada visita, são encaminhadas denúncias das violações dos direitos indígenas que será encaminhado a órgãos públicos no Brasil e a organismos internacionais. Também são realizadas audiências públicas, para envolver a comunidade local.

Algumas das organizações promotoras das missões ecumênicas: Fórum Ecumênico ACT Brasil (FE ACT Brasil), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), Processo de Articulação e Diálogo (PAD), Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin), Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entre outras.

VISITAS MAIS RECENTES

No dia 15 de dezembro de 2017, a Missão Ecumênica esteve na Terra Indígena Carazinho, onde vivem 35 famílias. Até o final de 2016, a comunidade estava acampada às margens da BR 386. Mesmo que as condições de vida fossem complicadas, o local era de fácil acesso, o que favorecia o comércio de artesanato, principal fonte de renda e subsistência das famílias.

Devido a uma série de ameaças e de ações judiciais, pedindo a reintegração de posse, que foi atendida pela justiça federal, os Kaingang se viram forçados a buscar outro local. O novo espaço está localizado no Parque da Cidade, com 217 hectares; porém os Kaingang ocupam uma pequena fração, apenas sete hectares. A comunidade está mobilizada e pressionando o órgão indigenista para concluir os estudos preliminares. Além de toda a morosidade no que tange a demarcação de seu território, os Kaingang revelam muita preocupação, pois não têm acesso à água potável e à terra para o plantio.

Em meio a esta luta, estão jovens como Fabiele da Rosa Claudino, 16 anos, que mora em Carazinho. “A gente sofre discriminação, sofre racismo, sofre bullying. Eu fico triste, mas meu ânimo volta de novo”, disse. “Gosto de ser indígena. A gente é o que é. As pessoas brancas são diferentes, assim como nós somos diferentes”.

No dia 16 de dezembro de 2017, a Missão Ecumênica visitou a área retomada em Maquiné pelos Guarani Mbya, que viviam acampados nas margens de rodovias no litoral do Rio Grande do Sul.

O local, que fica no do território tradicional do Povo Guarani, estava sob o domínio do Governo do Rio Grande do Sul e servia à Fundação Estadual de Pesquisa e Agropecuária/Fepagro, recentemente extinta pelo governo do RS.

 VEJA TAMBÉM
blank

Os Guarani reivindicam a demarcação da terra; no entanto, a Funai vem se omitindo, no sentido de constituir o grupo de trabalho para proceder os estudos circunstanciados da terra. Na área vivem atualmente 18 famílias, que estão mobilizadas e articuladas com importantes setores da sociedade, para manter a posse da área e enfrentar uma ação de reintegração de posse que tramita na Justiça Federal.

“É a primeira vez que o povo Guarani retoma uma área aqui no estado”, disse o cacique Cirilo Pires, da Lomba do Pinheiro, representante dos Guarani do RS. “Foi uma retomada autônoma: ninguém disse para nós fazermos, nenhuma organização, nenhum político, as famílias decidiram e viemos.”

De Maquiné, a Missão Ecumênica seguiu até a comunidade de Terra Capivari, acampamento que existe há 45 anos nas margens da RS 040, município de Capivari do Sul. Dez famílias vivem ali, sem água potável, saneamento básico e sem habitação. O cenário é de absoluta miserabilidade. Toda a região é de ocupação tradicional; no entanto, há muito tempo está invadida por fazendeiros. A comunidade se mantém com trabalhos eventuais e com a venda de artesanato. Alunas e alunos estudam em um espaço precário.

Em 2012, a Funai constituiu o Grupo de Trabalho para proceder aos estudos de identificação e delimitação da terra, mas este encontra-se paralisado. Existe a oposição de fazendeiros e do Estado contra a demarcação. Em anos passados, o Estado do Rio Grande do Sul, para impedir a demarcação de Capivari, articulou com a Funai a transferência das famílias para uma pequena reserva dentro de uma área devoluta, chamada de Granja Vargas. Uma região de solo improdutivo, arenoso e onde não há condições para a manutenção da cultura do povo.