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Lançamento do livro “Religião e Política: o contexto da lusofonia”

Lançamento do livro “Religião e Política: o contexto da lusofonia”

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Este livro coletivo reúne trabalhos que abordam estas temáticas, especificamente nas sociedades brasileira, portuguesa e cabo-verdiana, contextos onde estão presentes instituições e atores/líderes religiosos na política, abrangendo o universo cristão (evangélico e católico) e outros segmentos religiosos, como o espiritismo.

“Religião e Política: o contexto da lusofonia”

Informamos com entusiamo o lançamento desta obra que contempla artigos de autoras e autores de três países: Portugal, Cabo Verde e Brasil.

Abaixo, informamos como você poderá adquirir o livro, trechos da Introdução e apresentação de cada capítulo.

Como adquirir?

Através do site da Editora Recriar ou através do e-mail de um dos organizadores: nelsonlellis@gmail.com

Introdução: religião e política no espaço lusófono

[…]

A religião está interligada às problemáticas sociais e instituições das sociedades brasileira e portuguesa (e outras do universo da lusofonia) em níveis distintos, fenômeno que merece uma análise científico-acadêmica aprofundada, a fim de que se possa perceber o processo de mudança social nestes países e de que maneira são legitimadas (ou não) as decisões políticas que os (re)estruturam.

Este livro coletivo reúne trabalhos que abordam estas temáticas, especificamente nas sociedades brasileira, portuguesa e cabo-verdiana, contextos onde estão presentes instituições e atores/líderes religiosos na política, abrangendo o universo cristão (evangélico e católico) e outros segmentos religiosos, como o espiritismo. A obra está dividida em duas partes. A primeira apresenta as discussões sobre a relação entre religião e política em Portugal e Cabo-Verde e a segunda reúne os textos referentes ao Brasil.

A primeira parte começa com o texto de Helena Vilaça, A relação dos protestantes e evangélicos com a política em Portugal: das origens à atualidade. A partir de uma perspetiva histórica e sociológica, analisa a relação dos protestantes e evangélicos com o poder político em Portugal. Numa lógica comparativa, a autora realça que esta realidade em Portugal não é substancialmente distinta daquela que estas minorias religiosas têm experimentado em outros países da Europa ocidental, tradicionalmente católicos ou protestantes, que possuíram ou ainda possuem igrejas nacionais, como é o caso de Inglaterra e da Dinamarca.

Jorge Botelho Moniz, em Religião e Política em Portugal: secularismo e secularidade no século XXI, analisa o esforço de regulamentação estatal das religiões, através das concordatas, leis de liberdade religiosa ou acordos formais com confissões religiosas. A regulamentação pode ser desdobrada em duas subcategorias: uma trata todas as religiões por igual e a outra hierarquiza-as. O autor conclui que, apesar do Estado não ser confessional e de existir uma separação formal entre as duas esferas, ele coopera com as igrejas e comunidades religiosas radicadas no país, tendo em vista, por exemplo, a promoção dos direitos humanos, da paz ou da liberdade religiosa.

No capítulo Indivíduo, Religião e Estado: reconfigurações da laicidade no processo português de democratização política, Alfredo Teixeira estabelece algumas hipóteses de análise das dinâmicas sociais que construíram um novo contexto de laicidade em Portugal, depois da “revolução dos cravos”, ocorrida em 1974. Procura identificar os traços da morfologia da religiosidade portuguesa, na segunda metade do século XX, propondo vias interpretativas para as remodelações que os processos de democratização política criaram, no que toca aos quadros sociais de relação das instituições e agentes presentes no jogo político.

Embora Portugal seja um Estado laico, a religião católica continua a ter um papel de enorme importância na sociedade portuguesa. A partir desta constatação, Pedro Silveira, no texto Religião no centro do poder: católicos no núcleo duro do governo português (1980-2019), analisa as biografias dos principais membros dos governos portugueses, entre 1980 e 2019, e os seus discursos públicos. Em que medida os núcleos duros dos governos portugueses possuíram ministros católicos? Serão os principais governantes do país portugueses católicos? E qual o grau de envolvimento religioso destes políticos? Quais as diferenças entre os governos? Será Guterres um caso excecional? São essas as questões orientadoras do trabalho. O autor conclui que a filiação religiosa das elites políticas traduz essa relevância, ao mesmo tempo que influencia os acontecimentos políticos.

Partindo do pressuposto de que, num quadro social sustentado na pluralidade, as dinâmicas comunicacionais inter-religiosas relacionam-se com a liberdade, no texto A inexistência de diálogo e de concertação interconfessional em Cabo-Verde: as implicações político-religiosas, Adilson Semedo problematiza o processo de construção do pluralismo religioso em Cabo Verde, considerando que estão assegurados os seus suportes formais/jurídicos. No entanto, nota que se desconsidera a sua concretização enquanto experiência baseada em práticas discursivas/dialógicas que não sejam direcionadas, exclusivamente, para as instituições estatais. De forma restrita, a discussão evidencia que, em termos macrossociais, a necessidade da esfera política nacional de gerir poder da religião, potenciando os interesses particulares das organizações religiosas, é o principal obstáculo a construção de um quadro religioso pluralista que se estenda para além da dimensão jurídica.

O capítulo 6 abre a segunda parte deste livro. Alexandre Brasil Fonseca traz Um olhar sobre a liberdade religiosa no Brasil, buscando responder qual o lugar do religioso e da defesa religiosa no Brasil atual. O autor destaca grupos historicamente demarcados pelo sofrimento e considera os atuais acentos das desigualdades na sociedade (religiosa) – por mais que a pseudo-liberdade tente ocultar ou construir diferentes narrativas, o que é revelado diante de olhos mais atentos. Defende a compreensão deste cenário de forma ampla, que não se limita aos discursos hegemônicos sobre o tema e que se inclinam apenas aos desafios imediatos. Para que haja liberdade é preciso admitir as desigualdades e considerar os Direitos Humanos como forma de concretizar um plano que contemple política e programaticamente as demandas.

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Utilizando a pesquisa bibliográfica e análise de discursos como procedimentos metodológicos, Ingrid Heinen e Donizete Rodrigues discutem a relação entre Espiritismo e Política: o caso dos kardecistas no Brasil. O foco é analisar uma vertente da Doutrina Espírita, propagadora da ideia de que a religião não deve se misturar com questões políticas, em contraposição ao posicionamento de uma corrente que defende a importância da plena participação política dos espíritas, visando a melhoria da sociedade. No estudo de caso, foram analisadas declarações políticas proferidas, em 2018, pelo médium Divaldo Franco – um dos maiores expoentes do Espiritismo brasileiro – e o manifesto escrito por alguns espíritas, intitulados progressistas, desaprovando estas declarações. Após a análise, constatou-se uma evidente contradição entre um discurso generalizado de isenção política e os discursos ativamente políticos que marcam hoje o campo do Espiritismo no Brasil.

Evangélicos e as redes sociais: a moralização da política brasileira (2018-2020) é o tema discutido por Nelson Lellis e Roberto Dutra no capítulo 8. O texto aborda como a complexa interação de evangélicos em redes sociais e outros aplicativos de internet ocorreu durante as eleições presidenciais de 2018. Os autores consideram ainda os desdobramentos políticos e jurídicos após dois anos das eleições. A tese discutida é que o engajamento virtual de evangélicos na campanha de Bolsonaro trata-se de um fenômeno de moralização da política que se alimenta de condições sociais e políticas específicas.

Marcelo Camurça assina o capítulo 9: Religião, política e laicidade no Brasil atual (2014-2019). Em diálogo crítico com literaturas europeia e norte-americana, acerca da compreensão dos conceitos trazidos no título deste artigo, o autor descreve e problematiza a realidade nacional em que segmentos cristãos majoritários são flagrados influenciando as políticas do Estado e o debate na esfera pública. Por um lado, evangélicos conservadores/tradicionalistas – seguidores do Presidente Bolsonaro -, com retórica alinhada aos interesses dos EUA e com forte inclinação sionista; por outro, setores laicos progressistas, inclusive religiosos, que se mobilizam para a defesa da democracia. Tais grupos demonstram a complexidade do imaginário que a religião possibita na sociedade para legitimar determinadas leis, comportamentos, opressões e lutas.

O último capítulo desta coletânea traz a notável contribuição de Joanildo Burity, acerca do Ativismo religioso contemporâneo: o complexo ecumênico e o povo da/na religião. O fôlego despendido à pesquisa foi necessário para observar as novas formações políticas que tem ocorrido entre religiosos no Brasil (mas não só). O autor propõe, com base na noção de “ativismo religioso”, explorar maneiras de “renomear significantes de abertura à alteridade, solidariedade e reciprocidade” – que são responsáveis por dividirem a dinâmica religiosa cristã, que busca reforçar ou transformar a “dominação neoliberal e neoconservadora”. São justamente o discurso ecumênico e suas articulações em rede que confrontam o individualismo e o neoliberalismo. O texto, que além de problematizar o discurso religioso entre ecumênicos e conservadores, oferece caminhos para que o(a) leitor(a) compreenda os interesses de religiosos diante da defesa de direitos para grupos vulneráveis.

Esperamos que esta coletânea aponte novos rumos para pesquisas sobre religião e política/esfera pública e que o debate acerca da democracia seja enriquecido. O desejo é que a liberdade de expressão contemple todas as manifestações de crença, sem que estas convertam seus estatutos sagrados em constituição nacional.

Boa leitura!

Donizete Rodrigues
Nelson Lellis
(Organizadores)