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Religiões: Entre a Negação e a Afirmação dos Direitos Humanos

Religiões: Entre a Negação e a Afirmação dos Direitos Humanos

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A Revista Senso encerra seu primeiro ano editorial como um instrumento importante para trazer para os leitores um debate perspectivo e de qualidade acerca de um tema que, por mais que se afirme seja de foro individual e íntimo, perpassa as nossas relações sociais e políticas: a religião. De alguma forma, todas as edições deste ano partiram de uma premissa fundamental, que é a afirmação dos Direitos Humanos, um compromisso inalienável de nossa linha editorial. Ao tratar das religiões de matriz africana, da Reforma Protestante, dos sem religião e das religiosidades das juventudes, em todo o tempo, partimos da premissa da liberdade de crença e culto e da laicidade do Estado.

A presente edição, não só parte dessa premissa que sustenta nossa linha editorial como traz para o debate a relação, nem sempre pacífica, mas não necessariamente conflituosa, entre religião e Direitos Humanos.

Este é um assunto bastante pertinente no atual contexto de nossa sociedade. Vivemos em um Estado em que a pauta moral das religiões tem se posto como critério estético, político, educativo. Em nome de seus dogmas morais, pessoas religiosas, vociferando em redes sociais ou em protestos, querem definir quais obras de arte podem ou não ser vistas; quais políticas sociais e de direitos humanos o Estado (diga-se, laico) pode ou não implementar.

O argumento, não poucas vezes usado por essas pessoas, é um argumento de maioria. Se a maioria da população é religiosa, é essa maioria que deve ditar o certo e o errado, cabendo às minorias adequar-se. Pensamentos como esses, supremacistas, produziram dores imensas na humanidade. Pensamentos como esses, legitimaram o horror do nazismo, o horror da escravidão, o horror da inquisição cristã. Há tempos a religião apresenta-se como um impeditivo do reconhecimento da dignidade e dos direitos das minorias sociais, étnicas, sexuais.

Em contrapartida, nem tudo é treva. Algumas luzes teimam em brilhar em meio às trevas. Pessoas profundamente religiosas, a partir de suas experiências de fé cerram as fileiras dos que trabalham pela efetivação dos direitos humanos. Inclusive, não podemos negar, que as atrocidades cometidas pela ditatura civil militar, começam a ser denunciadas internacionalmente por Dom Helder Câmara, bispo católico. Não podemos negar a luta de Desmond Tutu, a luta de Doroth Stang, de Martin Luther King, de Mãe Beata de Yemanjá, de tantas outras e outros, pessoas religiosas que moveram todas as suas forças para que se respeitasse a dignidade humana.

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Diante de nosso compromisso com os Direitos Humanos, fomos agraciados pelo Governo do Estado de Minas Gerais com o prêmio mineiro de Direitos Humanos, na categoria de coletivos de comunicação. Esse prêmio nos compromete ainda mais com a defesa intransigente da dignidade do ser humano, sobretudo das minorias sociais, identitárias, sexuais.

Fazendo coro a essas mulheres e homens, a Revista Senso propõe este diálogo. Dialogar, nos tempos atuais, reafirmo, é ato revolucionário e, acrescento, profético. A equipe da Revista Senso quer aqui, fazer eco ao pedido de Dom Hélder ao nosso articulista Marcelo Barros: “não deixe a profecia cair”. Está aqui mais uma contribuição nossa para que ela permaneça de pé.