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Diálogo feito na fé: trocas geracionais

Diálogo feito na fé: trocas geracionais

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Com a frase de Arthur, que diz que (USA *1880 +1964) “A juventude não é um período da vida, é um estado de espírito, um efeito de vontade, uma qualidade de imaginação, uma intensidade emotiva, uma vitória da coragem sobre a timidez, um gosto da aventura sobre o amor ao conforto.”, inicio esse texto no qual quero abordar o que a troca de experiências entre mais velhos e mais jovens e vice-versa, pode e deve ajudar no fortalecimento da fé.

Já que juventude não é apenas um período entre o nascimento e os dias atuais, mas muito mais que isso, é um estado de espirito, posso, com certeza dizer que existem velhos jovens e jovens velhos. Mas a experiência de vida, essa não é um estado de espirito, é a vivencia, o aprendizado e esse só o passar dos tempos e o viver cada acerto e erro, cada coisa boa ou ruim é que nos permitirá produzir um conhecimento que muito os “já mais vividos” podem passar para aqueles que “iniciam a vivência”.

No quesito fé, isso não é diferente. Quem já passou pelas dúvidas e tribulações de fé pode ajudar, e muito, aqueles que iniciam os seus enfrentamentos nas tormentas do crer ou não crer. Ninguém está isento de sofrer no decorrer dos dias de sua vida as indagações e as dúvidas sobre o que e como crer, e é aí que as experiências podem ajudar.

Tenho visto, em algumas religiões, que a participação dos jovens ainda é grande, mas aumenta também estão o números de jovens que se intitulam agnósticos e ateus. Mas, uma coisa é certa: eles não seguem mais o que seus familiares ou mais velhos manda, eles estão seguindo sua vontade, seu crer ou não. Isso pode fortalecer as relações religiosas, principalmente o ecumenismo, tão difundido entre a atual juventude. Mas também é observado a ausência dos mais velhos nesses grupos.

De um lado, a maior participação da juventude em assuntos de fé traz um fortalecimento do respeito, do diálogo inter-religioso, mas ao mesmo tempo traz um risco de que os questionamentos os afastem de suas crenças. É preciso ter diálogo, muito diálogo

Os jovens trazem em si a sede de conhecimento, a vontade de ver sua religião evoluir e melhorar cada dia mais. Os mais velhos querem ver sua fé continuada nessa juventude, mas as vezes não aceitam as mudanças que a modernidade traz. Lembro-me que os instrumentos musicais que animavam as missas eram apenas o órgão e, no mais, um violão. Hoje vemos outros instrumentos entre eles guitarras e baterias, por exemplo. Então faz-se necessário a união da experiência com a força. Da vivência com a sede de sabedoria. Da troca de experiências e do crescer com o conhecimento do outro.

Dialogar e trocar experiências, esses sim são dois pilares que serão, sem dúvida alguma, o fortalecimento da fé e a quebra de paradigmas ou intolerâncias. Somente a troca de experiências garantirá a perpetuação da fé e a modernização dela, sem que isso destrua dogmas ou regras, mas os faça mais claros, mais entendidos. Os dogmas não serão obedecidos por apenas existir, mas por serem compreendidos e aceitos.

O conhecimento dos mais velhos poderá, e muito, ajudar a compreensão dos mais novos, e a sede de transformação dos mais novos poderá ajudar e muito os mais velhos a compreensão do sagrado e respeito. Essa troca de conhecimento é sem dúvida, repito, a única maneira de fortalecermos a fé.

Lembro-me de quando fui convidado para palestrar sobre as religiões de matrizes africanas, para Jovens da Pastoral da Juventude. Ali estava um homem de 50 anos, cabelos e barba grisalhos, roupas típicas de sua religião, guias no pescoço, diante de jovens católicos, atuantes em suas paróquias, convictos de sua fé, fiel a seu Deus. Mas a cada palavra minha, era notório a sede de conhecimento deles. A cada pergunta deles a mim dirigida, era notório a vontade de conhecer para respeitar. Faço aqui uma pausa para lembrar que, neste mesmo dia, um irmão de religião dizia que na modernidade era preciso #CONHECER PARA RESPEITAR, e isso eu presenciava ali.

Não existia, no momento diferença de idade, mas diferença de conhecimento, e, dos dois lados eram ricas as palavras. Todos, palestrantes e participantes, saímos mais cheios de conhecimentos, mais prontos para conhecer o diferente, mais preparados para respeitar e exigir o respeito.

Não é sua idade que fará a sua fé, mas seu conhecimento e sua vontade de vivê-la. E somente essa troca de experiências é que poderá dar mais energia, mais respeito, mais vida.

Na carta que o Papa Francisco escreveu aos jovens, ele relata que, na jornada mundial da juventude, ele perguntou se “As coisas podem mudar ???” e que os jovens gritaram “sim”. Também nessa mesma carta Francisco diz que “um mundo melhor se constrói, graças ao desejo de mudança e generosidade da juventude”. Concordo com o Papa, é dos jovens que vem o mundo melhor, transformado, respeitoso. Temos acompanhado diversos atos de intolerância religiosa, e em todos os noticiados pela mídia, vemos que são praticados pelos adultos. Em contrapartida a participação em atos contra a intolerância é maciçamente de jovens.

Mae Beata de Iemanjá, sacerdotisa respeitadíssima das religiões de matrizes africanas, uma vez questionada sobre o respeito a ancestralidade e aos mais velhos, muito forte no candomblé, disse. “Não posso acreditar que um mais velho não saiba transmitir fé a um mais novo, e não posso acreditar que um mais novo não possa ensinar a viver a fé a um mais velho. Essa troca de experiências e informações é que fazem de nossa religião uma religião de resistência, e que vive suas tradições, mesmo esse ensinamento sendo na oralidade. Mas não será possível uma roça de candomblé existir se não houver a convivência perfeita e respeitosa de jovens e velhos, negros e brancos, homens e mulheres. ”

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Quero nesses dois comentários, confirmar que não existe religião se não houver o respeito e a troca de experiência entre todos, independentemente de idade, cor, sexo. E que aí existindo essa troca de experiência poderemos construir um mundo melhor, mais respeitoso, mais humano.  Que possamos unir para a transformação do mundo, nessa Casa Comum que tanto queremos que exista.

Que a juventude de hoje, que serão os velhos de amanhã, possam aprender com sabedoria, para que num futuro possam ensinar com a mesma sabedoria que hoje recebem.

Que a fé não tenha idade, mas tenha respeito e unidade.

Que os jovens apendam com os mais velhos e vice-versa.

Que o Deus seja muitos.

E que o respeito seja para todos que creem e que não creem.