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Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!

Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!

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E alguém me envia a seguinte mensagem: “Boa Noite, professor, gostaria de saber como eu faço para melhorar a incorporação do meu Orixá. Sou iniciado no “Orixá Ogun” e sinto ainda ser um médium consciente, apenas com Ogun. Quando dou passagem ao meu Caboclo, não sinto, ouço, nem vejo nada, mas quando “dou passagem” a Ogun e “coloco todas as suas paramentas”, ainda sinto a incorporação muito fraca, será que não sou de Ogun?”.

Obviamente, já respondi à pessoa que não sei como fazer, porque este não é o Orixá que conheço e não o concebo desta forma. Lamentei por não poder orientá-la e desculpei-me por isso.

De qualquer modo, a confusão apresentada me intriga e é comum, Orixá – incorporação – mediunidade consciente – iniciação neste Orixá com feições de espírito ou tomado como espírito.

Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!

É assim, quem quer se comunicar com os espíritos deve seguir as práticas mediúnicas; quem quiser seguir as lições de Buda deve seguir o Budismo, quem quiser encontrar Jesus e a suposta, bem suposta, salvação deve seguir o cristianismo e afins;

Agora, quem quiser uma prática negra, africana, antirracista, que deve se caracterizar como não excludente, humanista, de resistência negra, identitária, iniciática, ritual e que cultua um “Orixá” centelha divina-natureza-ancestral-Rei (e não Orixás espíritos), Rainha, Princesa, Príncipe mitológicos, água, fogo, terra e ar sagrados; quem quiser encontrar Orí e cultuá-lo por meio dos ritos do Candomblé, quem quiser o poder das folhas e alimentar-se por meio da “Alimentação Tradicional”, quem quiser fazer o corpo ceder à divindade sem se preocupar com o que está do lado de fora e com o modo de sentir; quem quiser se compreender e compreender por meio do outro; quem quiser “ser possuído” por Orixá, ceder ao transe e ao movimento do corpo e ter o corpo como centro da divindade e movimentar-se como água, rio, folha, brisa, vento, fogo, terra, reproduzindo os mitos ancestrais africanos e desaprender e reaprender a ser; e deixar de ser fragmento e tornar-se, por meio do todo, unidade e força de resistência à lógica do opressor; quem quiser uma nova família “de identidade e valores civilizatórios negros” e pensar como família venha para o Candomblé. Este é o Candomblé e este é o Orixá do Candomblé.

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Orixá não é espírito! Orixá não é espírito! Orixá não é espírito!

Se ainda não entendeu isso, creio que ainda não saiba, igualmente, o lugar com o qual se identifique. #pensemos.

© DaLua Foto e Vídeo
© DaLua Foto e Vídeo

Aprendendo sobre Candomblé – ÒRÌSÀ não incorpora. A mediunidade do Candomblé não é como da religião espírita, kardecista ou Umbandista. O processo é de mimetismo e excorporação. Òrìsà já habita o iniciado e por meio dos ritos iniciáticos, a natureza- divindade- ancestral – natureza que já o habita excorpora e se funde ao corpo que cede a sua própria natureza sagrada. Não se mede grau de mediunidade ou de consciência/ inconsciência. Não há morte para que o corpo seja ocupado por algo que já o ocupa. Trata-se de ceder ao sagrado, se curar – se, de ficar leve e flutuar ao som dos atabaques e dos Cantos africanos. Neste processo, a dança tem papel nuclear, mas não se dança para o outro ou para fora. É uma dança de dois que são um. Dança-se para dentro e para honrar a África Ancestral. A beleza estética deve ser apenas resultado.