Ainda somos capazes de estabelecer alianças? Pequenas reflexões sobre o amor
Apresentar qualquer reflexão sobre o amor, em tempos de ódio, é profundamente insurgente. Essas reflexões servem, inclusive, para que estejamos atentos e atentas aos substratos das nossas ações. Muito se fala sobre o amor e em nome do amor, mas é preciso pensar se o nosso espírito, de fato, compreende a razão de ser, política e transformadora, deste afeto.
É necessário que nesse itinerário nós indiquemos a importância das alianças e da percepção concreta do outro, enquanto sujeito, a fim de que consigamos alterar as bases sociais que se ancoram na essencialização da violência.
Intolerância religiosa, racismo religioso, misoginia, classismo, xenofobia, LGBTfobia e demais agências de violação que se interpõem contra nós, são oriundas de uma estrutura que se retroalimenta do ódio e que, por vezes, se fortalece ao incutir em nós, através dos seus sistemas enunciativos, o auto-ódio. Esse processo faz com que as nossas percepções fiquem borradas e nos vejamos como inimigos/as quando, na verdade, o nosso real inimigo se materializa nessa estrutura bélica, restritiva e que não permite a presença da diferença.
Uma sociedade que consome e que lucra com a noção de igualdade absoluta cria um pânico moral em relação à diferença. É preciso pensar, no entanto, que as nossas diferenças são marcas constituintes da nossa condição humana.
Associar a diferença ao desprezível corresponde aos interesses de poder que se beneficiam do extermínio de narrativas, de afetos e de crenças, a fim de manter intacto o seu projeto de mundo unilateral e genocida. Audre Lorde, em Sou sua irmã, nos ensina que “nossas diferenças são usadas contra nós a serviço da separação e da confusão, pois a vemos apenas como oposição ao que somos, dominantes/subordinados, bons/ruins, superiores/inferiores”. Nessa direção, somos levados e levadas a considerar que, no âmbito da polaridade, a diferença deve ser subjugada ou executada, reverberando, assim, as métricas de um sistema colonial de ser, agir, pensar e se relacionar.
As reflexões sobre o amor desmascaram a necessidade do subjugamento, da subordinação e da execução como “etiquetas” das nossas relações, e, mais, deixam entrever o quanto são importantes as nossas alianças contra os sistemas de violência que se interpõem, de modos multifacetados, contra nós. bell hooks, em Tudo sobre o amor, nos ensina que “o amor é o que o amor faz” e, mais, “que não há justiça sem amor”. Nesse sentido, nós te perguntamos: o que fundamenta as suas ações são o amor e a justiça?
Professor do Departamento de Filosofia da PUC Minas. Professor da Plataforma Feminismos Plurais. Mestre em Filosofia pela FAJE. Doutorando em Ciências Sociais pela PUC Minas. Autor do livro Inflexões éticas. Colunista da Revista Senso. E-mail: thiagoteixeiraf@gmail.com.