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Como ser budista em meio a um apocalipse zumbi

Como ser budista em meio a um apocalipse zumbi

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Há alguns dias, após publicar um texto falando sobre nosso catastrófico cenário social e político atual, recebi uma mensagem de uma amiga pedindo para que eu escrevesse sobre como não adoecer em uma situação como essa. Prontamente respondi que não sabia, pois eu mesmo tenho beirado a patologia em diversos momentos e as crises de ansiedade ficam cada vez mais difíceis de evitar. Por isso, na tentativa de responder – ainda que parcialmente – a ela e a mim mesmo, escrevo essa pequena reflexão.

Primeiramente, não estamos passando por um apocalipse Zumbi. Os fãs de The Walking Dead já podem nos mostrar que o cenário de um apocalipse Zumbi é bem diferente. Mas será que isso é verdade mesmo? Veja bem, se considerarmos Zumbis como mortos-vivos que apesar de não saberem direito o que estão fazendo seguem com ímpeto um desejo de destruição e que ainda por cima querem se alimentar de nossos corpos, especialmente da figurada materialidade de nosso intelecto, o cérebro, então podemos perceber que o atual governo se encaixa metaforicamente em cada um desses pontos. São mortos-vivos, pois direcionam sua energia vital para a morte e não vivem como plenamente humanos, pois não possuem a capacidade de reconhecer seres humanos empaticamente. Não sabem direito o que estão fazendo – isso acho que nem eles conseguem negar – mas seguem propagando a violência e a destruição por onde passam. Consomem, ou querem consumir, nossos corpos e nossas mentes, impondo um Estado de moralização pseudo-cristã, estruturado por raízes nepotistas.

Pois bem, parece que estamos mesmo enrolados, não é? E nesse sentido, me pergunto, como devo ou posso ser um bom budista? Como o Dharma de Buda pode me ajudar e como devo responder aos eventos ao meu redor? Consigo chegar a algumas respostas;

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  1. O Buda te diz ‘fique tranquilo, você não vai dar conta dessa situação’. Sim, é exatamente isso que você leu. O Buda não diz pra você lutar até todo o seu sangue e todo o seu suor se verterem no campo de batalha. O budismo nos ensina a buscar enxergar as coisas como elas realmente são. Fenomenologicamente. É questão de olhar com calma e julgar assertivamente. E uma verdade que temos que aceitar é que não podemos colocar o peso dessa situação em nossas costas. Não agüentaríamos viver assim. Não adianta que você siga dizendo ‘não quero viver em um país assim, não quero viver com governantes assim’. Acontece que essa é a realidade que nos é dada. Esse é o nosso país, esses são nossos governantes. Mas então, devemos ficar alheios a tudo isso? Jamais. E essa é a resposta seguinte.
  2. O seu limite não significa seu fim. Peça ajuda. Pedir ajuda não é um sintoma de fraqueza, mas a possibilidade de honrar alguém com sua confiança. A real fraqueza é depositarmos toda nossa esperança em nosso pequeno e malcriado ego. Portanto, deixe que os amigos sejam seus amigos, que os fortes façam força, que os inteligentes pensem, e que o sagrado abençoe.
  3.  Siga sempre o caminho do meio, mas o caminho do meio não é um portal de invisibilidade, então não seja lerdo, preste atenção. Seguir o caminho do meio significa não se deixar cegar por um extremo ou outro dentre as possibilidades, mas sim em viver equilibrando aquilo que é mais adequado para cada situação. Andar no caminho do meio não significa que alguém não possa te lançar uma pedra e atingir sua protuberante caixa craniana só para ver seu tombo. Portanto, equilibre, mas tome cuidado para não se distrair e acabar sentando no colo do diabo.
  4. Tudo segue sendo impermanente. Essa fase também vai passar. Será hoje? Não. Amanhã? Não. Então quando? Não sabemos, mas há nada que permaneça ante ao princípio da fluidez do mundo.

Respire com calma. Coma com prazer. Ame com intensidade. Isso é o que importa. No mais, não precisamos desejar colocar nossos nomes na historia. Somos parte de um todo infinitamente complexo. Vamos focar em construir a historia sendo exatamente aquilo que somos.