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Debilidade e esforço sobre os inúmeros casos de abuso sexual na igreja católica: quando a justiça é o que restou do sagrado

Debilidade e esforço sobre os inúmeros casos de abuso sexual na igreja católica: quando a justiça é o que restou do sagrado

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O mês de março de 2019 é muito significativo para todos aqueles e aquelas que se interessam pela causa da vida. Sim, porque a vida hoje é uma causa. É neste mês que se completa um ano da morte da vereadora Marielle Franco e de Anderson; é neste mês que se comemora o Dia Internacional das Mulheres; e é neste mês que a Revista Senso publica uma edição apenas com artigos escritos por mulheres: “Religião e Mulheres: nossos passos vêm de longe. Nossa resistência também!”.

O Brasil somou só no mês de janeiro mais de 100 casos de feminicídio. Segundo um levantamento feito pelo professor Jefferson Nascimento (USP), em três semanas, 94 cidades espalhadas por 21 estados do país testemunharam tais fatos.

A violência contra mulheres e crianças se dá de muitas maneiras e em diferentes ambientes. Há muito tempo a igreja católica (não só!) vem colecionando denúncias e mais denúncias sobre abusos sexuais cometidos pelo clero.

Um documentário produzido em inglês, espanhol e italiano, chamado “Bento XVI, a hora da verdade”, onde apresentam as teses de que Ratzinger (11 de fevereiro de 2013) teria renunciado ou por causa de sua velhice ou por sua impotência em lidar com os casos de abusos sexuais que envolviam líderes da igreja. Outros filmes e documentários já trataram de abusos sexuais, como “Em nome de Deus” (2002), “Má educação” (2004), “Dúvida” (2008), “O clube” (2015), “Spotlight” (2015). Há um em especial, “Mea maxima culpa: Silence in the house of God” (2012), que aponta claramente que a renúncia de Bento XVI ocorreu porque não tinha condições de lutar contra o poder da igreja em relação aos tantos casos de crime sexual.

O problema não foi o Ratzinger, mas sua debilidade diante de uma estrutura política tão bem orquestrada para determinados fins: como o de proteger sua imagem custe o que custar. Não sei como, mas o papa Francisco conseguiu driblar alguns poderosos. Em dezembro de 2018 já havia pedido para que os casos de abuso fossem registrados e que não ignoraria mais as “abominações” dos membros do clero.

Uma vítima disse no início deste ano que o papa Francisco ainda estava sozinho nesta luta de erradicar os abusos da igreja (o papa já havia sido acusado pelo Arcebispo Carlo Maria Vigano de acobertar certos casos de abuso).

O papa Francisco excomungou nomes como dos chilenos padre Fernando Karadima e os arcebisbos Francisco José Cox e Marco Antonio Órdenes Fernández; o padre goiano Jean Rogers Rodrigo de Souza; o cardeal (o primeiro ser excomungado) americano Theodore MacCarrick. Vários outros estão sendo investigados.

Não temos ideia de até onde vai a justiça e a quem chegará a excomunhão. De uma coisa sabemos: o abuso sexual cometido por um líder espiritual tem a capacidade de privar, inclusive, a comunhão de um fiel vitimado diante do sagrado. Neste caso, nada mais sagrado do que a justiça: prisão (retirar a liberdade) e excomunhão (retirar seus “poderes”).

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Frases de Doris Wagner-Resinger, que abandonou em 2011 a vida religiosa:

“Perdi a confiança em mim mesma e me tornei muito frágil”.

“Tive uma crise de fé séria: meu primeiro impulso foi pensar que, se eu falasse, prejudicaria a Igreja, então Deus queria que eu ficasse quieta. Era inaceitável”.

“Não quero pensar nesse tipo de Deus”.