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Educar para a cidadania

Educar para a cidadania

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Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém (Paulo Freire), nem a religião. Pode parecer estranho começar o editorial deste número da Revista Senso dizendo que a religião não pode ser sujeito da autonomia de ninguém. Por que começamos afirmando isso?

Para as pessoas que estão minimamente ligadas ao que acontece na sociedade, é perceptível o aumento do ativismo das religiões, sobretudo do cristianismo, nos debates políticos, educacionais, econômicos. Como somos um país que tem a religião no gene de sua formação, não é estranho que assim o seja. O problema é o caminho que as religiões e os sujeitos religiosos têm proposto nesse seu ativismo sócio-político.

Vemos religiosos defender o fim do estatuto do desarmamento, ofender a defesa dos direitos humanos, promover e participar de linchamentos sociais, oporem-se a grupos que defendem direitos iguais para minorias, como as mulheres e LGBTQIs. O grande fiador das posturas intolerantes das religiões não é nada mais nada menos que o Todo-Poderoso Deus.

Em contrapartida, há pessoas, também profundamente religiosas, que defendem exatamente o contrário do que afirmamos acima. Defendem o fim do armamento civil, defendem os direitos humanos, promovem comunhão e alteridade, afirmam e defendem direitos iguais para minorias, com as mulheres e os LGBTQIs. O grande fiador das posturas tolerantes das religiões não é ninguém mais, ninguém menos que um Todo-Amoroso Deus.

O que se pode compreender do exposto acima é que a religião tem um poder educativo muito grande. Como ela é um dos fatores culturais formadores do nosso ethos, pode contribuir tanto para uma sociedade que lide melhor com as diversidades presentes no nosso contexto social, quanto pode contribuir para o recrudescimento  e a intolerância nas relações.

Educar para a cidadania, e a religião com isso? A religião tem muito a contribuir com uma educação para a cidadania, para uma vida boa e ética no conjunto da sociedade. Ela tem um papel social relevante na formação das consciências dos sujeitos e, por isso, tem uma posição peculiar na educação. A religião faz parte da educação informal que nos torna pessoas, que impregna de sentidos (nem sempre positivos, daí sua ambiguidade) todo o nosso fazer humano.

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Com a presente edição, a Senso, como vem fazendo neste seu um ano de existência, toma partido, sem deixar de expor lados. E o partido que toma é de uma educação libertadora, capaz de educar sujeitos autônomos e que saibam se solidarizar com a dor do que sofre, com a dor daquele que é privado de seus direitos fundamentais.

Que seja tempo de construção de sentidos diferentes dos que temos feito em tempos de monólogos. Que dialogar seja processo educativo para todas e todos que se propõem a conviver.

Boa leitura.