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Num fim de semana, conheci “Lutero”

Num fim de semana, conheci “Lutero”

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Era novembro de 2016 e recebi um convite para participar de um encontro de jovens que falavam e viviam (nem todos) o ecumenismo.

Confesso que fiquei feliz por poder vivenciar a energia da juventude, e receoso por já ter meus bons 49 anos, mas convite aceito, desafio lançado, fui eu, o filho de Oxalufan, encontrar os diversos filhos do ecumenismo.

O local, um sítio, onde a natureza e seus moradores nos cercavam. O clima, uma chuva leve, daquela que lava o ar para que ele fique mais puro.

Depois de colocar umas canjicas para a paz, umas balas para as crianças, ascender um incenso para Exu e pedir proteção a Oxalá, era hora de receber aqueles que vinham em nome de uma fé, ou simplesmente por não a terem, vinham para compartilhar, trocar, aprender, ensinar.

Vinham para dizer de suas crenças ou não, suas experiências, sua religião.

Entre esses vários jovens conheci alguns que professavam sua fé no Luteranismo. Meu Olodumare (Deus) o que é luteranismo, que professam, quem são, o que fazem?

Essas e mais milhares de perguntas me rondavam o cérebro a todo instante e me deixavam cada vez mais interessado e, ao mesmo tempo, instigado para conhecer.

Fui eu, brincando, conversando e aos poucos tentando conhecer sobre essa religião que até então, a mim, era totalmente desconhecida. Joice, Henrique, Felipe, Dé Ludwig, Thiago (Nossa, esse sofreu com tantas brincadeiras!), Jean, Fabio… quanta saudade! Esses foram alguns dos protagonistas que me falaram um pouco de sua fé, de sua religião, do luteranismo e de como eram seus templos e celebrações.

Como foi rico, como foi gratificante saber que aquele que um dia se rebelou contra o Catolicismo Romano criara, e nem sei se era sua intenção, uma religião tão forte, tão expressiva, tão rica, tão espiritualizada.

Será que o teólogo alemão que criou as “95 Teses” e que professava que a “salvação vem somente pela Graça, pela fé e por Cristo” poderia imaginar que 500 anos depois haveria jovens do Brasil inteiro, reunidos numa chácara em Contagem-Minas Gerais, junto a outros jovens de diversas denominações religiosas e de diversos lugares, falando em “ecumenismo e casa comum”?

Como sua própria doutrina diz sobre a “predestinação”, não seria ali uma prova disso?

Como sempre diz meu amigo, Pai Washington: “#conhecer para respeitar” e eu, literalmente, estava vivenciando aquela frase. Conhecendo o luteranismo para poder respeitar, caminhar junto, construirmos a Casa Comum.

Vale lembrar um fato: um dos jovens postou em sua rede social, uma foto onde no chão em que acontecia os encontros havia objetos de todas as religiões, entre elas, as de matrizes africanas. Houve em sua rede social um comentário “chuta que é macumba”. Lembro-me que quando ele mostrou doeu em mim, e eu demostrei minha tristeza e indignação. Em poucos minutos, aqueles “jovens Luteros” se reuniram, se mobilizaram e mais uma vez “faziam revolução”. Segurando uma faixa “não chutem meu sagrado pois eu não chuto sua Bíblia”,  tiraram uma foto e a postaram em suas redes sociais, aquilo me emocionou. Vivia, literalmente, o conhecer para respeitar, e de ambos os lados.

500 anos se passaram e agora vejo que ainda temos muito o que conhecer.

500 anos de luteranismo, e ainda muito a reinventar.

Agora serão outros 500.